9 de junho de 2025 - 18:20

Anvisa aprova Mounjaro para tratamento de obesidade: veja como funciona 

O medicamento tirzepatida, cujo nome comercial é Mounjaro, foi aprovado nesta segunda-feira, dia 9, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser usado no tratamento da obesidade e sobrepeso (na presença de pelo menos uma comorbidade como hipertensão, colesterol alto, apneia obstrutiva do sono ou doença cardiovascular).

O produto já havia sido aprovado pela agência para combate à diabetes 2 – embora também não oficialmente estivesse sendo comprado para obesidade e como uma das “canetas emagrecedoras” de cunho estético, que se popularizaram recentemente.

O Mounjaro é vendido no formato de caneta autoinjetora de dose única, em embalagens contendo quatro canetas, equivalente a um mês de tratamento. As doses disponíveis atualmente são de 2,5 miligramas (mg) e 5 mg.

Os preços variam de cerca de R$ 1,4 mil a R$ 1,9 mil para doses de 2,5 mg; e entre R$ 1,8 mil e R$ 2,3 mil para 5 mg, considerando a alíquota de 18% de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

Na lista de “canetas emagrecedoras”, estão outros medicamentos Saxenda e Wegovy, sendo o mais conhecido o Ozempic. Tanto ele quanto o Mounjaro foram criados para o tratamento de diabetes e, devido ao efeito adicional de emagrecimento, posteriormente passaram a ser indicados para o tratamento da obesidade.

Como funciona

O cardiologista Gustavo Lenci Marques explica que ambos regulam a velocidade do intestino. A digestão fica lenta e, com isso, é produzida uma sensação de saciedade, regulando o apetite, diminuindo a ingestão calórica e permitindo a redução de peso.

“Os dois atuam no cérebro e no intestino, mas o Ozempic atua com um hormônio apenas nestes locais e o Mounjaro atua com dois hormônios, o que torna o seu efeito maior”, diz o médico, também professor de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).

Segundo a fabricante do Mounjaro, Lilly, os efeitos eventos adversos mais comumente relatados foram relacionados ao trato gastrointestinal. De acordo com a bula do remédio, é muito comum – em mais de 10% dos pacientes – ocorrer náuseas e diarreias. Já entre 1% e 10%, dor abdominal, vômito, indigestão, prisão de ventre, distensão abdominal, flatulência estão entre os efeitos colaterais mais comuns.

Caneta autoinjetora Mounjaro foi autorizada pela Anvisa para ser vendida para tratamento de obesidade (Foto: Divulgação/Eli Lilly do Brasil)

Tratamento precisa de exercícios e dieta

A classe médica, no entanto, (inclusive o laboratório Lilly) reforça que o Mounjaro é um medicamento que faz parte de um tratamento amplo, o qual deve ser realizado em conjunto com atividades físicas e dietas de baixa calorias. Sem isso, os resultados são menores e o peso pode voltar quando o remédio for suspenso.

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) consideram a aprovação da Mounjaro para obesidade um avanço relevante no enfrentamento da doença por ser mais uma opção para médicos e paciente, e porque a regulamentação ajuda a reduzir o comércio paralelo.

Hoje, cerca de 30% da população brasileira é obesa. Se considerar também o sobrepeso, o total corresponde a dois terços dos habitantes.

Além disso, os resultados do Mounjaro têm se mostrados eficientes, segundo a presidente eleita da SBEM, Karen de Marca. A medicação mostrou, diz ela, benefícios adicionais no sistema cardiovascular, renal e hepático.

“Já tínhamos conhecimento dos dados e do uso da tirzepatida para obesidade em outros países, com resultados muito satisfatórios. Em estudos, cerca de 50% dos pacientes perdem mais de 20% do peso corporal, e aproximadamente 35% atingem perdas superiores a 25% — números que se aproximam dos resultados obtidos com cirurgia bariátrica”, diz ela.

Marques lembra que estes resultados de perda entre 20% a 25% de peso se referem à dosagem de 15 miligramas, ainda não comercializada no Brasil e reforça para quem deseja usar o produto apenas para emagrecer: “Quando não há mudança de vida, o peso volta”.

“À moda Ozempic”

O resultado emagrecedor que estas canetas causam chamou a atenção de quem busca perder peso com rapidez e sem esforço. Apesar do valor, as “canetas emagrecedoras” podiam ser compradas sem fiscalização nas farmácias até o mês passado.

A partir de junho, a Anvisa botou um freio na “moda Ozempic”. Passou a obrigar receita médica de duas vias para compra nas farmácias, sendo uma retida.

A grande procura causou inclusive falta de alguns produtos no mercado, prejudicando pacientes diabéticos e obesos que realmente precisavam destes remédios.

O próprio Mounjaro teve uma demanda “sem precedentes” desde o mês passado. “Apesar de termos fornecido um volume consideravelmente maior do que a demanda esperada, essa superou qualquer expectativa, e atualmente estamos enfrentando disponibilidade intermitente das dosagens de 2,5 mg e 5 mg de Mounjaro no Brasil”, disse a empresa à Gazeta do Povo.

A farmacêutica Lilly enfatizou que a disponibilidade intermitente não está relacionada a problemas de qualidade. Disse que a situação pode persistir nas próximas semana e que aumentou os pedidos de importação do produto para o Brasil.

“Nos últimos anos, vimos crescer uma febre em torno do emagrecimento rápido. Influenciadores exibem seus resultados com Ozempic como se fosse um suplemento fitness, clínicas oferecem ‘protocolos de verão’ como se fossem cosméticos, e pacientes compram remédios de uso controlado como quem escolhe um shake detox na prateleira. Tudo isso embalado em promessas de autoestima, aceitação e corpos ‘prontos para o verão’”, critica Marques.

Ele enfatiza que esses medicamentos “não são remédios para emagrecer”, mas para tratar doenças crônicas.

“Diabetes e obesidade são condições com impactos metabólicos, cardiovasculares e ortopédicos bem documentados. Estamos falando de intervenções que reduzem o risco de morte, melhoram a apneia do sono, aliviam dores articulares e transformam a qualidade de vida”, diz o médico, também especialista da plataforma de Carreira Médica PUCPR.

Na sua avaliação, a banalização do uso destes medicamentos é preocupante porque o uso indiscriminado, sem acompanhamento médico adequado, pode causar efeitos adversos sérios, com resultados duvidosos e riscos reais.

“Estamos diante de um paradoxo. Finalmente, a medicina dispõe de ferramentas eficazes para tratar a obesidade com embasamento científico — e justamente agora, essas ferramentas são reduzidas a modismos”, diz ele.

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noticia por : Gazeta do Povo

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