16 de junho de 2025 - 15:58

Brasileira em Comitê da ONU quer proteção de mulheres com deficiência e acesso a novas tecnologias

A senadora Mara Gabrilli, do Brasil, esteve na semana passada na sede da ONU para a 18ª Conferência dos Estados-Partes da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. 

Membro do Comitê da ONU sobre o tema, ela ocupa atualmente a vice-presidência do Grupo de Trabalho sobre Mulheres e Meninas com Deficiência. Nesta conversa com a ONU News, ela anunciou a elaboração de novas diretrizes internacionais para proteger o grupo.

Discriminação e violência

Segundo Mara Gabrilli, é preciso entender a interseccionalidade num contexto em que as mulheres “acumulam diversas camadas de discriminação”, relacionadas com raça, pobreza, orientação sexual, e outros fatores.

“Infelizmente, a violência contra a mulher vem escalando rumos muito altos. E se você avaliar, proporcionalmente, a mulher com deficiência é muito mais discriminada, muito mais abusada e passa por muito mais violência. Então é gratificante saber que a gente está fazendo uma colaboração que é para as mulheres no mundo inteiro”.

Mara Gabrilli fala das pautas globais e nacionais mais importantes para pessoas com deficiência

Inteligência artificial pode favorecer autonomia

A integrante do Comitê da ONU destacou que a reunião também foi marcada pelo avanço de discussões sobre o uso da inteligência artificial, IA, para melhorar a qualidade de vida daqueles que tem alguma dificuldade intelectual ou motora.

“As pessoas com deficiência geralmente precisam de muita tecnologia assistiva e de muita inteligência artificial. Isso está fazendo uma mudança muito grande, porque se abriu um novo caminho de conquistas, de formas de trabalho, de interação com a sociedade. Então, acho que a gente tem muita chance de conseguir usar toda essa inteligência artificial para a evolução mesmo da humanidade e maior autonomia das pessoas com deficiência”.

Entusiasta do amplo acesso a novas tecnologias, Mara Gabrilli ressaltou que os exoesqueletos, uma tecnologia cara de robótica que ajuda as pessoas a voltarem a andar, estão disponíveis no Sistema Único de Saúde do Brasil, SUS. Ela disse esperar que o mesmo ocorra com ferramentas baseadas em IA.

Uso de cannabis medicinal no Brasil

A senadora brasileira declarou que a ampliação do acesso também é importante no caso da cannabis medicinal. Segundo ela, apesar dos benefícios comprovados em várias áreas da saúde humana, a substância ainda é alvo de “muita desinformação e fake news no Congresso brasileiro”. 

Autora de um projeto de lei sobre o tema, Mara Gabrilli disse que é possível ofertar essa opção terapêutica a custos mais baixos no país.

“Hoje, o Brasil permite a importação da cannabis medicinal, muito organizadamente, e em 15 minutos você consegue autorização da Anvisa para fazer essa importação. Está muito bem-feita. Só que é muito caro. Então é injusto porque a população toda não tem acesso. Você tem que importar. Com tanta terra no Brasil, a gente vai ficar importando? E os nossos brasileiros que não têm recurso, não tem acesso a um tratamento que acaba com convulsões, por exemplo? Então, isso é muito injusto”.

Ela destacou ainda benefícios da cannabis no tratamento da depressão, bipolaridade e ansiedade, destacando que as necessidades globais de saúde mental ficaram mais pronunciadas com a pandemia de Covid-19.

Empresa brasileira apresenta projetos de inclusão em conferência da ONU

Empresa brasileira apresenta projetos de inclusão em conferência da ONU

Valorização das cuidadoras

Mara Gabrilli trouxe para o encontro na ONU sua própria experiência no parlamento brasileiro, onde considera que foram dados passos importantes para a inclusão de pessoas com deficiência.

Ela se emocionou ao falar do papel das cuidadoras em sua trajetória e defendeu uma maior valorização dessas profissionais.  

“Para mim, é uma questão de honra, eu não posso deixar aquele Congresso sem deixar esse legado porque eu sou a primeira pessoa que entrou no Congresso com uma cuidadora, que participa de todas as reuniões. Minhas cuidadoras têm que entrar no plenário. Não importa se a reunião é com o presidente, ou com o vereador, a minha cuidadora tem que estar. A gente trouxe uma cultura nova para o Parlamento. E essa cultura, a gente sempre espera, que de lá, vire uma política estratégica que possa ir para todo o mundo. Eu só estou aqui conversando com você na situação de senadora, de perita da ONU, de ter conseguido fazer tudo isso, mesmo sem me mexer, porque tem uma cuidadora que está aqui do meu lado. Eu tenho muita gratidão por ter isso, porque se eu não tivesse condições de ter isso, eu jamais estaria aqui. Então, acho que é o mínimo que o Brasil tem que fazer para as pessoas com deficiência”.

Autora de um projeto de lei sobre Política Nacional de Cuidado, ela disse que apesar dos avanços recentes, como a sanção da lei 15.069/2024, ainda faltam políticas públicas que garantam uma ampla oferta de cuidadores para pessoas com deficiência, doenças raras e idosas.

Mara Gabrilli enfatizou que as mães que têm filhos com alguma deficiência intelectual ou física têm muito medo de morrer antes deles sem ter garantias de que serão cuidados. Ela afirmou que seria um “grande acalento para o coração dessas mães” saber que o governo vai garantir um acolhimento profissional nesses casos. 

*Felipe de Carvalho é redator da ONU News em Português.

FONTE : News.UN

Ouvir Band FM

LEIA MAIS