14 de junho de 2025 - 14:33

Ativista brasileiro que foi preso por Israel após tentar ir para Gaza chega a São Paulo

Dias depois de embarcar em uma missão para furar o bloqueio imposto por Israel aos palestinos na Faixa de Gaza e de ser detido ainda no caminho pelas forças de Tel Aviv, o ativista brasileiro Thiago Ávila, 38, desembarcou na manhã desta sexta-feira (13) no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo.

Ávila fez parte da tripulação do Madleen, barco que tentava chegar a Gaza com ajuda humanitária simbólica e que foi interceptado pela Marinha de Israel a cerca de 180 km do território palestino.

Familiares de Ávila afirmam que, durante o período em que esteve detido, o brasileiro sofreu maus-tratos. Ele foi colocado em uma solitária e fez greve de fome após se recusar a assinar documento de deportação que o acusava de ter entrado de forma ilegal em Israel, embora a embarcação tenha sido interceptada em águas internacionais, e seus passageiros, levados para o território israelense à revelia.

No total, 12 pessoas estavam no Madleen, incluindo a ativista sueca Greta Thunberg e a eurodeputada franco-palestina Rima Hassan. Ávila foi detido no domingo (8) e liberado na quinta-feira (12). Antes de chegar a Guarulhos, a aeronave com o brasileiro fez uma escala em Madri.

Depois de soltar o brasileiro e outros passageiros do Madleen, o governo de Israel fez uma provocação nas redes sociais: “Bye-bye [tchau tchau] —e não se esqueçam de tirar uma selfie antes de partirem”.

Tel Aviv acusa os ativistas de “encenar uma provocação midiática com intenção de fazer publicidade”.

Israel apertou o bloqueio que impõe ao território palestino após o início da guerra com o Hamas, em outubro de 2023. De março a maio deste ano, Gaza chegou a ficar 11 semanas sem receber nenhuma ajuda humanitária. Tel Aviv justifica o cerco afirmando que o grupo terrorista estaria roubando e estocando alimentos para vender a preços elevados. Autoridades da ONU, no entanto, argumentam que não há evidências de que a ajuda tenha sido desviada pela facção nos últimos meses.

Com mais de 800 mil seguidores nas redes sociais, Ávila mobiliza apoio a causas ligadas à Palestina e ao enfrentamento das mudanças climáticas.

Nascido em Brasília em 1986, ele é ativista por justiça climática e cofundador do movimento Bem Viver no Brasil, inspirado em filosofias indígenas andinas. Participou da fundação dos coletivos Insurgência em 2013, do Subverta em 2017 e contribuiu para a chegada do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) ao Distrito Federal.

Ações midiáticas, com transmissões ao vivo em situações de perigo, são comuns na trajetória de Ávila. Ele foi preso duas vezes em 2021 ao tentar impedir despejos de famílias durante a pandemia. Em uma delas, transmitiu ao vivo em seu perfil no Instagram as cenas de detenção. É réu em três processos e pode ser condenado por crime ambiental e por resistência a reintegrações de posse.

Ávila já organizou missões para Cuba e para o Líbano, onde compareceu ao funeral do antigo líder do Hezbollah morto por Israel, Hassan Nasrallah. Ele também foi ao Irã, principal inimigo de Tel Aviv, em junho de 2024, quando participou da Cúpula Internacional sobre Gaza daquele ano, batizada de “Os Oprimidos, mas Resilientes”, a convite da embaixada iraniana no Brasil.

A missão no Madleen foi coordenada pela coalizão internacional Freedom Flotilla. Todas as 12 pessoas na embarcação foram detidas, e quatro, incluindo a ativista sueca, foram liberadas após assinar o termo de deportação que os outros oito passageiros se recusaram a firmar —incluindo Ávila.

noticia por : UOL

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