8 de junho de 2025 - 12:55

‘A situação é muito terrível para os cristãos de Gaza’, diz palestino evangélico

O cristão evangélico palestino Khalil Sayegh, nascido e criado na Faixa de Gaza, compartilhou em 21 de maio suas experiências e reflexões sobre os efeitos da guerra entre Israel e Hamas no podcast Inside the Epicenter, apresentado por Joel Rosenberg, editor-chefe dos sites All Arab News e All Israel News.

No episódio, Sayegh detalhou as perdas de familiares, o deslocamento forçado de sua comunidade e os dilemas morais enfrentados pelos cristãos da região.

“Estamos falando de menos de 600 cristãos restantes em Gaza. Antes, eram 1.500. Aqueles que conseguiram sair já partiram, em maio”, afirmou Sayegh, atualmente residente nos Estados Unidos.

A ofensiva iniciada em 07 de outubro de 2023, quando o Hamas lançou um ataque contra Israel, teve impacto direto sobre sua família. No dia seguinte ao início do conflito, a casa da família Sayegh foi atingida por bombardeios. Eles buscaram refúgio em uma igreja, considerada um dos últimos locais seguros para cristãos na região.

“Perdi tantas pessoas nesta guerra”, relatou. “Colegas de classe, amigos — muçulmanos e cristãos — e familiares. Quando o bombardeio da igreja aconteceu em 23 de outubro, perdi primos, a maioria bebês. […] Então, após o ataque de um atirador à igreja católica em Gaza, meu pai faleceu. […] E minha irmã mais nova, Lara, que tinha acabado de completar 18 anos, morreu enquanto evacuava a pé para o Egito. Ela simplesmente desmaiou. Não sabemos o que aconteceu”.

Sayegh destacou que desde o início da crise previa o agravamento da situação. “Eu entendia como os israelenses pensam. Eu entendia o que o Hamas poderia ter feito. Eu sabia que seria um inferno em Gaza. Dormi aterrorizado naquela noite”.

Para ele, a guerra foi resultado de equívocos estratégicos tanto por parte do Hamas quanto de Israel. “Pessoalmente, acredito que dois cenários, os mais prováveis, aconteceram. Um, que [Yahya] Sinwar estava embriagado de poder e pensou que poderia obter reféns e forçar Israel a um acordo. O segundo, que Irã, Hezbollah e Síria lançariam um ataque conjunto, pegando Israel desprevenido enquanto os EUA estavam distraídos na Ucrânia. Ambos foram erros de cálculo completos”.

Em sua análise, Sayegh também apontou falhas na política israelense: “Israel se acostumou com a ideia de que o Hamas poderia ser administrado. Havia uma sensação de que, se simplesmente dessem dinheiro ao Hamas — dinheiro do Catar chegando em malas —, Gaza ficaria quieta. Netanyahu acreditava que o Hamas era um trunfo para impedir a formação de um Estado palestino”.

Joel Rosenberg acrescentou: “O governo israelense via o Hamas como uma tensão a ser administrada”, destacando a ausência, até então, de apoio interno para uma grande operação militar terrestre em Gaza.

Ao analisar o cenário atual, Sayegh identificou uma mudança inédita entre os palestinos. Segundo ele, uma nova pesquisa indica que 48% dos habitantes de Gaza apoiam os protestos contra o Hamas: “Até mesmo esse número provavelmente é maior”, disse. “Dezenas de milhares marcharam em Beit Lahia com slogans dizendo: ‘Nós somos a resistência’. Isso é inédito. Na cultura palestina, a resistência é sagrada. Mas agora as pessoas estão dizendo: se isso custar nossos filhos, somos contra”.

Para Sayegh, os protestos são também uma expressão de exaustão diante da guerra. Ao tratar do futuro da região, ele defendeu o fim do controle do Hamas e uma transição liderada pela Autoridade Palestina, com apoio de países árabes como Egito e Arábia Saudita. “O Hamas deve ser desmantelado e o policiamento deve ser feito com apoio árabe”.

Questionado sobre a viabilidade dessa proposta, Sayegh afirmou: “Sim, mas duas condições devem ser cumpridas. Primeiramente, a Autoridade Palestina deve convidá-los. Eles são vistos como o governo legítimo. Segundamente, Israel deve se comprometer com um plano político — algo como a Iniciativa de Paz Árabe liderada pela Arábia Saudita”.

Apesar das perdas, Sayegh afirmou manter viva a esperança. “Não se trata de otimismo ingênuo, mas de uma esperança forjada na dor e na fé”, concluiu, segundo informações do The Christian Post.

FONTE : Gospel Mais

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