20 de maio de 2025 - 19:27

Por dentro da máquina de discriminação de Harvard

O governo do ex-presidente Donald Trump intensificou o embate com a Universidade Harvard, congelando futuras bolsas e ameaçando retirar o status de isenção fiscal da instituição. Em resposta, Harvard adotou algumas medidas conciliatórias — como a reformulação da identidade visual de seu escritório de DEI (sigla em inglês para Diversidade, Equidade e Inclusão) e o cancelamento de cerimônias de formatura segregadas por raça —, mas, nos bastidores, a estrutura institucional voltada à promoção de políticas raciais continua operando a plena capacidade.

Documentos internos obtidos por nossa reportagem revelam indícios de favorecimento racial nos processos de contratação de professores e funcionários administrativos. Os programas de DEI da universidade vão muito além do treinamento em “preconceito inconsciente” (unconscious bias) e se tornaram mecanismos de exclusão sistemática de determinados grupos — especialmente homens brancos.

“Há evidências abundantes de que a universidade continua a discriminar a suposta classe opressora em seus processos de seleção e promoção”, afirma um pesquisador de Harvard que preferiu não se identificar.

Há anos, o departamento de DEI da instituição trabalha explicitamente para formar um corpo docente considerado mais “diverso” do ponto de vista racial. A chamada Iniciativa de Contratação Inclusiva, que abrange toda a universidade, fornece diretrizes e treinamentos aos envolvidos nas seleções e está diretamente vinculada às metas de diversidade estabelecidas por Harvard. Sua missão declarada é “incutir a compreensão de como os departamentos podem utilizar o processo seletivo” para formar “uma força de trabalho cada vez mais diversa”.

Em outro documento intitulado Melhores Práticas para a Condução de Processos de Contratação Docente, Harvard recomenda uma série de medidas com potencial discriminatório. Logo no início do processo, os comitês são orientados a “garantir que as listas iniciais incluam mulheres e minorias” e a “considerar a leitura das candidaturas de mulheres e minorias em primeiro lugar”. Os presidentes dos comitês são instruídos a “monitorar continuamente” a composição racial da lista de candidatos e, à medida que ela é reduzida, “avaliar todos os candidatos pertencentes a grupos sub-representados”.

A universidade admite considerar deliberadamente a raça como um critério no processo de contratação. Os comitês de seleção têm acesso privilegiado a dados demográficos voluntários — incluindo gênero, raça e etnia — e são incentivados a utilizar essas informações para “promover a diversidade” nas listas de candidatos. Harvard reconhece que alguns de seus programas de contratação estabelecem “metas de colocação” para mulheres e minorias — que, embora tecnicamente não configurem cotas fixas, funcionam, na prática, como tais.

Durante anos, Harvard exigiu que os candidatos incluíssem declarações de DEI — descritas como “qualificação obrigatória para todas as descrições de cargo e anúncios de vagas” — e respondessem a perguntas sobre diversidade elaboradas pela própria universidade, o que, na prática, excluía candidatos que não compartilhassem de determinadas visões ideológicas.

Embora a Faculdade de Artes e Ciências tenha abolido essa exigência no ano passado, a universidade continua a incentivar a apresentação de declarações de diversidade opcionais para vagas docentes, além de destacar os princípios de diversidade, equidade e inclusão em seus documentos institucionais.

A professora de Direito Gail Heriot, integrante da Comissão de Direitos Civis dos Estados Unidos, caracteriza esse tipo de exigência como uma forma de condicionamento ideológico. “Em outras universidades, candidatos que afirmam tratar todos os indivíduos de forma igual, independentemente de raça, etnia ou sexo, são automaticamente desqualificados”, afirma. “O mesmo provavelmente ocorre em Harvard, com aqueles que discordam da ortodoxia dominante sobre essas questões.”

As metas raciais não se limitam à contratação de docentes. Segundo documentos internos, Harvard estabeleceu metas explícitas para contratação de minorias em cargos administrativos e de apoio, sob o argumento de promover ações afirmativas. Em diversas áreas e funções, a universidade especifica o percentual atual de empregados pertencentes a “classes protegidas” e define metas futuras.

Em um caso, a meta era multiplicar por seis o número de funcionários pertencentes a minorias no escritório de ex-alunos de um departamento; em outro, a meta era elevar para mais de 90% a proporção de mulheres entre os assistentes da Escola de Saúde Pública.

“Empregadores raramente definem metas como essas se não pretendem implementá-las”, avalia Gail Heriot. “Essas metas em particular beiram o absurdo. Harvard já tem categorias de trabalho com mais de 70% de mulheres. Em vez de se perguntar por que menos homens se candidatam, a universidade propõe metas que ampliam ainda mais essa disparidade.”

Essas práticas podem violar leis federais dos Estados Unidos. Dan Morenoff, diretor executivo do Projeto Americano de Direitos Civis, afirma que os documentos obtidos podem representar uma exposição legal para a universidade. Segundo ele, os planos violam as disposições da Ordem Executiva 11246, assinada pelo presidente Lyndon B. Johnson em 1965 — e revogada por Donald Trump no início de 2024 —, ao agrupar “todos os grupos raciais e étnicos, exceto os brancos”, sob a rubrica genérica de “minorias”. Tal abordagem, segundo a jurisprudência americana, desrespeita as normas de equilíbrio racial.

Procurada pela reportagem, Harvard não respondeu se continua operando esses programas. A única mudança significativa de que se tem notícia é a já mencionada revogação das declarações obrigatórias de DEI na Faculdade de Artes e Ciências.

Embora polêmicas, essas políticas são bem conhecidas no campus. Para o pesquisador ouvido pela reportagem, os critérios atuais de contratação da universidade — tanto para docentes quanto para cargos administrativos e técnicos — são deliberadamente excludentes. “Harvard se afastou de sua missão fundamental de busca imparcial da verdade e tornou-se uma instituição orientada por critérios ideológicos”, afirma. “É uma universidade profundamente corrompida.”

Christopher F. Rufo é pesquisador sênior do Manhattan Institute, editor colaborador da revista City Journal e autor de Revolução Cultural Silenciosa: Como a Esquerda Radical Assumiu o Controle de Todas as Instituições“.
Ryan Thorpe é repórter investigativo do Manhattan Institute.

©2025 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: Inside Harvard’s Discrimination Machine

noticia por : Gazeta do Povo

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