12 de maio de 2025 - 14:25

Sou alcoólatra, alcoólica ou alcoolista, não importa a denominação

Alcoólatra, alcoólica ou alcoolista? Venho acompanhando a novela das nove da Globo, com a personagem Heleninha Roitman, que tem problemas com o álcool. Reparei que todos falam alcoolista quando se referem a ela, como se tivessem feito um cursinho sobre a doença. Olha, sempre me apresentei como alcoólatra e me sinto bem. Não há, na verdade, uma denominação correta. O importante é olhar para o alcoolismo como um problema que existe em todos os cantos, e aí palmas para a novela. A audiência atinge todos os lares, de todas as classes sociais.

Confesso que me incomoda eles falarem tanto em “alcoolista”. Sei lá, acho uma bobagem sem tamanho ficar tão preocupado em como se referir à Heleninha. Explico: Heleninha é uma alcoólatra em recuperação. Já foi internada algumas vezes, fez coisas que a deixam muito triste. Já incendiou sua casa com o filho dentro. O menino quase morreu. Hoje está em casa, com o amparo da família. Teve recaída, e isso faz parte da doença e não da recuperação.

Poderia trocar o nome dela pelo de várias mulheres que estão em AA e têm histórias tão tristes quanto a dela. A grande sacada do grupo é isso. Você se identifica com os outros pela dor, a tal terapia do espelho. São questões muito semelhantes e com pessoas de todas as classes sociais, de todas as idades. No meu caso, há a questão da maternidade, né? Na fase mais apropriada para ser mãe eu estava completamente fora da caixinha e agora é tarde. Todos os Dias das Mães eu sofro. Vejo na internet fotos de mulheres com barrigão, com filhos. Acho essa celebração muito desnecessária.

Para quem tem mãe e/ou filho, tudo bem. Mas e quem perdeu a mãe recentemente? E quem está com a mãe internada num hospital ou numa clínica de recuperação? Sua mãe é alcoólatra e você sofre horrores há anos? Eu te entendo e acho uma batalha imensa ter um parente alcoólatra. Fica sempre uma baita tensão no ar. Se está bebendo é um sofrimento, se não está bebendo, sempre paira o medo de uma recaída.

Digo isso porque o alcoolismo se alastra para toda a família. Todo mundo sofre junto. E se a pessoa é mulher, é pior. Porque além de tudo existe o preconceito. Já ouvi muito que homem bêbado é feio, mulher é pior ainda. Hoje não ligo, tá tudo certo, sei a barra da minha doença. Do quanto ela me persegue. Adoro escrever essas colunas porque elas me ajudam a desabafar coisas que estão apertadas no meu peito.

Sou uma mulher que já ficou em bares de pernas abertas, ou com o sutiã aparecendo, ou tentando abraçar pessoas que eu nunca tinha visto. Já levei caras estranhos para a minha casa. Já fiz tanto ou pior que a Heleninha. A gente tem em comum tanta coisa…

Se pudesse sentar com a Heleninha, iríamos conversar muito. Eu contaria minha história e diria por que estou há uns bons anos sem beber. Claro que já tive vontade de beber nesse tempo, mas sempre me apeguei às dicas dos AA. Evito fome, cansaço, raiva e solidão. Foi a melhor coisa que aprendi. Ainda acrescentaria que evito emoções fortes. Quando tive recaídas, na maioria das vezes foi por questões amorosas. Nunca fui boa nisso.

Afinal, sou uma alcoólatra, alcoólica, ou alcoolista. Em suma, tenho sérios problemas com o álcool.


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noticia por : UOL

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