A cantora Linn da Quebrada voltou aos palcos neste sábado (10), depois de um período em que esteve internada para tratar de depressão e abuso de drogas.
À Folha após a apresentação, no teatro do Sesc 14 Bis, em São Paulo, Linn afirmou que o medo e a insegurança adiaram sua volta, mas um áudio de apoio enviado por Fernanda Montenegro foi o “chacoalhão de coragem” que a motivou.
Aos cerca de 500 fãs que lotaram o primeiro de dois dias de espetáculo, a cantora disse que passou por “poucas e boas, por muitas e péssimas”, e que seu retorno está sendo “um grande renascimento”.
No áudio, a atriz, que está em cartaz com o filme “Vitória” ao lado de Linn, incentiva a cantora a ter força num momento conturbado: “A gente tem que se conduzir na vida e tem que ter fôlego. A vida é sonho. Acorda. Ponha a mão na sua alma e canta. Você é um ser muito bonito, uma artista, uma atriz, seu trabalho é espetacular nesse filme.”
O filme estreou no topo da bilheteria nacional em 13 de março. Cerca de quatro dias depois, Linn, que interpreta a cabeleireira Bibiana no longa, foi internada. Em junho do ano passado, ela já tinha dado entrada em uma clínica de reabilitação.
“Eu estava passando por um momento muito delicado quando recebi aquele áudio. Foi um chacoalhão para ter coragem de cuidar de minha sanidade mental e olhar para minha vulnerabilidade. Eu senti a mão da Fernanda no meu coração e a possibilidade de ter fôlego, força, fé e serenidade”, disse.
A cantora conta que recebeu mensagens de carinho de milhares de fãs depois que divulgou o áudio em seu Instagram. “Sinto o quanto posso receber amor a partir dessas pessoas, o quanto elas também precisam pôr a mão no coração e cantar, seja lá o que for que elas precisem de positivo nas suas vidas. Eu me sinto tocada por essa mão que vem delas para mim.”
Um mês após a publicação do áudio, Linn anunciou seu retorno aos palcos, depois de quase um ano de afastamento. “A vontade de fazer o show já existia. Mas tinha medo de não dar conta em razão da depressão, de não estar fisica e emocionalmente apta e de saber que um show exige muito não só de mim, mas de uma rede de pessoas. Acredito muito no meu potencial, mas também duvido muito de mim”, diz ela.
A apresentação é uma celebração e também uma despedida do álbum que dá nome ao show, em que Linn brinca com as palavras, explora a musicalidade do português e a sonoridade dos trava-línguas do idioma.
Em um dos momentos, ela utiliza a repetição e a aliteração da frase “saias brancas e botas pretas” para evocar um apelo de engajamento negro, transformando-a em “sai as brancas, bota as pretas”.
Em outro, pede um isqueiro ao público, faz o gesto de acender um cigarro e canta a frase “carreguei essa terrível sensação”, seguida por “sou eu queimando aqui”. Com a repetição, a expressão se transforma em “sou eu quem mando aqui”, sugerindo uma analogia à superação do abuso de substâncias.
No palco, Linn projeta uma aura mística, intensificada por uma peruca de tranças pretas que formam uma máscara ao redor dos olhos e caem até os joelhos. A atmosfera de mistério só se desfaz quando a cantora retira a peruca, dando lugar ao seu eu humano, vulnerável. “Canto para ser ouvida por mim mesma. É um feitiço que se volta contra a própria feiticeira”, diz.
Quanto aos próximos projetos, Linn conta que está trabalhando na regravação da música “Nuvem Negra”, no lançamento do disco “Fogo Fátuo” e no documentário “Trava Línguas — Quem Soul Eu”, que retrata o processo de criação do álbum e fechará a turnê de mesmo nome. A cantora também está escrevendo um livro, que pretende lançar em 2026, baseado em seus diários pessoais.
Por fim, ela comenta sua participação no Big Brother Brasil, em 2022. Questionada se a vida após o reality a frustrou, a artista nega. “O BBB me mostrou que a vida pode ser um jogo. Um jogo para os fortes, mas também para aqueles que são vulneráveis, e eu estou aprendendo a jogar esse jogo.”
noticia por : UOL