8 de maio de 2025 - 13:54

Conclave marca avanço das ordens religiosas na cúpula da Igreja

O conclave iniciado nesta quarta (7) reúne um colégio cardinalício inédito na história recente da Igreja. Entre os 133 cardeais eleitores, 33 pertencem a ordens religiosas — capuchinhos, salesianos, dominicanos, jesuítas, franciscanos, entre outras. Representam um quarto do total. Essa presença reconfigura os termos da sucessão papal.

Ao contrário dos clérigos diocesanos, membros de ordens vivem sob votos de pobreza, castidade e obediência. Residem em comunidades fraternas, respondem a superiores eleitos e seguem carismas que orientam sua missão e espiritualidade.

Sua formação valoriza o discernimento coletivo, a itinerância e a escuta das realidades locais. Padres diocesanos, por sua vez, são incardinados a dioceses, ocupam cargos estáveis e atuam em chave pastoral-administrativa, com ênfase na organização sacramental e paroquial.

A inserção ampliada de membros de ordens religiosas no Colégio Cardinalício introduz outro modo de pensar a autoridade na Igreja. Todos os 33 com direito a voto foram nomeados por Francisco. Nenhum participou de conclaves anteriores. Isso significa que parte expressiva dos eleitores traz experiências institucionais que operaram no último conclave.

Esses religiosos estão habituados a processos deliberativos marcados pela consulta, pelo silêncio ritualizado, pelo peso da escuta comunitária. Têm mais com formas colegiadas de governo, tal como descritas por Francisco em documentos como Evangelii Gaudium. Em vez de blocos ideológicos, atuam em redes fraternas e informais, com baixa propensão ao alinhamento automático.

Historicamente, o papado foi exercido quase sempre por padres diocesanos. Na história moderna da igreja, antes do jesuíta Francisco, eleito em 2013, apenas Gregório 16, monge camaldulense eleito em 1831 não era diocesano.

Muitos religiosos com direito a voto no conclave atual foram superiores gerais de suas ordens. Entre os mais visíveis estão o capuchinho Fridolin Ambongo (Congo), o salesiano Ángel Fernández Artime (Espanha), o jesuíta Jean-Claude Hollerich (Luxemburgo) e o franciscano Pierbattista Pizzaballa (Itália). Todos trazem uma formação marcada pela missão, pela escuta comunitária e por trajetórias fora dos eixos institucionais clássicos do Vaticano.

A valorização da vida consagrada não implica homogeneidade doutrinária. Há divergências entre eles sobre sinodalidade, moral sexual ou estrutura de governo. Mas compartilham um ethos que associa autoridade à escuta, eclesiologia à itinerância e liderança à experiência vivida com os conflitos sociais e culturais do presente.

Ao inserir esse grupo no centro das decisões, o pontificado de Francisco reposicionou a vida religiosa como matriz legítima da liderança eclesial. Parte de seu legado se expressa menos em documentos do que na constituição do colégio que agora escolhe seu sucessor.

Mais do que nomes ou alinhamentos, é essa mudança na gramática da autoridade que ajuda a compreender o momento presente. A sucessão de Francisco ocorre não apenas entre indivíduos, mas entre formas distintas de imaginar o governo da Igreja. Nesse cenário, a presença dos religiosos de ordem é um dado central e duradouro.

noticia por : UOL

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