Aos 96 anos, Maria de Oliveira Kley relembra uma trajetória marcada pela atuação missionária da Assembleia de Deus em diferentes regiões do Brasil. Natural do Espírito Santo, ela e seu esposo, o pastor Guilherme Eugênio Kley (falecido), atuaram por décadas na fundação de igrejas evangélicas, ultrapassando a marca de 200 templos organizados em diversos estados.
Segundo Maria, o pastor Guilherme era amplamente reconhecido pelo trabalho evangelístico: “Ele era muito respeitado por onde passava. Tinha orgulho de ser pastor e de construir igrejas. Não conheci outro pastor que tenha edificado tantas quanto ele”, afirmou em entrevista concedida à revista Comunhão.
A atuação de Guilherme Kley foi lembrada não apenas no âmbito religioso. Em reconhecimento à sua contribuição à sociedade, seu nome batiza duas vias públicas no Espírito Santo: a Rua Guilherme Eugênio Kley, em Cachoeiro de Itapemirim, e a Rua Pastor Guilherme Kley, no centro do município de Fundão. Este último também foi o local onde exerceu mandato de vereador. No entanto, segundo registros, ele optou por não permanecer no cargo, preferindo dedicar-se integralmente ao ministério cristão.
Além das ações pastorais, Guilherme Kley também promoveu iniciativas na área da educação. Em Fundão, liderou a construção de duas escolas, que permanecem em funcionamento até hoje, segundo relato de moradores.
Maria Kley, por sua vez, destacou-se no apoio direto à comunidade, especialmente no acolhimento de novos convertidos e no cuidado com os membros das igrejas plantadas: “Eu não era de pregar, mas cuidava dos congregados. Quando chegava um recém-convertido, eu acompanhava, ajudava, levava para minha casa, partilhava o pão. Era uma época muito boa”, relatou.
Um episódio mencionado por Maria ilustra sua atenção à espiritualidade cotidiana dos fiéis. Segundo ela, ao perceber que um membro da igreja a cumprimentou com um simples “boa tarde” em vez da tradicional saudação “a paz do Senhor”, decidiu abordá-lo: “Fui atrás dele, conversei e falei: ‘Irmão, o senhor está se desviando, não deu a paz do Senhor’. Fiquei ali com ele, conversando um pouco, e depois voltei para casa”. Na mesma noite, recebeu a visita da esposa do fiel, que contou que ele havia retomado a leitura da Bíblia após o diálogo.
Pastor Guilherme Kley permaneceu em atividade ministerial até o ano de 1978. Nesse período, ele e Maria realizaram inúmeras visitas domiciliares com o objetivo de compartilhar mensagens bíblicas com famílias da comunidade: “Era maravilhoso quando fazíamos as visitas juntos. Sempre levávamos uma palavra de fé e ânimo”, lembrou ela.
A trajetória do casal também foi marcada por episódios de violência. Em uma Sexta-feira da Paixão, enquanto oravam em uma congregação localizada em uma área carente e sem infraestrutura, foram surpreendidos por um homem armado com uma ripa de madeira: “Era uma igreja simples, no alto de um morro, sem luz, sem água”, disse Maria. Durante o ataque, ela foi atingida no rosto e desmaiou. O pastor a socorreu e a levou até uma farmácia, onde recebeu atendimento sem anestesia: “Foi doloroso, mas eu não senti dor. Deus me sustentou”, relatou.
Quinze dias após o incidente, o pastor procurou a delegacia local e solicitou a liberação dos agressores, alegando que eles tinham filhos pequenos. A decisão sensibilizou os envolvidos, que posteriormente se converteram ao Evangelho.
Apesar das dificuldades, Maria Kley afirma olhar para o passado com gratidão: “Passamos por muitos momentos difíceis, mas enfrentamos tudo com amor. Foi uma bênção fazer a obra de Deus com alegria”, disse.
Para ela, o maior legado do casal é o impacto espiritual deixado nas comunidades onde atuaram: “O que me alegra é saber que muitas vidas foram salvas por meio do trabalho do pastor Guilherme – e eu tive o privilégio de estar ao lado dele. Sou feliz até hoje”, concluiu.
FONTE : Gospel Mais