20 de abril de 2025 - 16:19

Calderano fez mudanças de impacto na carreira para superar fase difícil

A conquista histórica de Hugo Calderano na Copa do Mundo de Tênis de Mesa é um ponto fora da curva numa temporada especialmente difícil após a euforia e a decepção que o brasileiro experimentou em Paris.

A euforia se deve ao fato de que, antes do brasileiro, nenhum atleta fora da Ásia e da Europa havia chegado a uma semifinal de Jogos, numa jornada que empolgou o país. Mas a derrota na semifinal, após levar uma virada no primeiro game, mexeu com a parte mental do brasileiro, algo que ficou claro na disputa do bronze.

O que se seguiu às Olimpíadas foi um ano dividido em duas partes. Em seu clube, Liebherr Ochsenhausen, foi praticamente imbatível e perdeu apenas uma vez em 19 partidas. Foi campeão da Copa da Alemanha e, neste momento, está a uma vitória da final da Bundesliga, a liga alemã. É, sem dúvidas, o motor do time.

Neste ano, também foi campeão pan-americano, título conquistado pela quinta vez, quase uma obrigação para quem ocupa o quinto lugar do ranking mundial e disputa esse torneio contra jogadores de uma região sem tradição no tênis de mesa —os atletas das Américas mais bem colocados depois de Calderano são o norte-americano Kanak Jha, na 33ª posição, e o brasileiro Vitor Ishiy, no 52º lugar. A distância é abissal.

Já nos campeonatos internacionais do WTT (World Table Tennis), com forte presença de atletas asiáticos, acumulou derrotas e, nos oito torneios anteriores à Copa do Mundo, não passou da barreira das quartas de final. Na temporada até os Jogos de Paris, ele havia chegado a quatro decisões e conquistado dois títulos.

Ainda que na Alemanha atuem nomes como Patrick Franziska (8º) e Dang Qiu (11º), os principais jogadores do mundo hoje estão na Ásia. Não à toa, dos oito reveses de Calderano em eventos WTT, sete foram contra atletas do continente. O retrospecto em 2025 apenas reforça o quão admirável foi a campanha do brasileiro na Copa do Mundo, superando os três primeiros do ranking, dois chineses e um japonês —em sequência—, e a performance na decisão contra Lin Shidong, o número 1 do mundo, foi um doutorado de tênis de mesa.

O desempenho nos principais campeonatos internacionais nesta temporada já havia ligado um alerta para Calderano, que promoveu mudanças em sua preparação. Em janeiro, anunciou o término da parceria com a equipe técnica que o acompanhou nos últimos 15 anos, incluindo a saída do treinador francês Jean-René Mounie, que agora ocupa o cargo de consultor internacional da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa.

Esse também será o último ano de Calderano no Liebherr Ochsenhausen, após nove temporadas em duas passagens pelo clube alemão. A ideia, segundo o anúncio, é se concentrar nos campeonatos do WTT —ele seguirá usando as instalações da equipe, então é improvável que se transfira para outra liga, o que parece fazer sentido para um atleta de 28 anos e que, em Los Angeles, terá 32. É necessário preservar o corpo.

O brasileiro sabe que, para chegar em condições de conquistar uma medalha olímpica, terá de se manter nas primeiras posições do ranking, o que em tese garante um chaveamento mais favorável. Assim, o que de fato importa para pontuar são os eventos internacionais, sobretudo os Smash, os Slams do tênis de mesa.

Por vezes, a inteligência fora do comum de Calderano é retratada de forma quase folclórica em entrevistas, que ressaltam o fato de ele falar sete línguas —recentemente se dirigiu à mídia chinesa em mandarim, com ótimo vocabulário— e de saber na ponta da língua as capitais mundiais. Mas essa inteligência vai bem além e comporta a capacidade de mudar pontos estruturais de sua carreira frente a momentos de instabilidade.

noticia por : UOL

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