20 de abril de 2025 - 4:59

Dólar abre estável com tensões envolvendo guerra tarifária

O dólar subiu 0,06% no começo desta quinta-feira (17). O percentual ronda a estabilidade, enquanto investidores permanecem atentos às negociações envolvendo as tarifas do presidente Donald Trump e escalada das tensões entre a economia americana e chinesa.

Às 9h05, o dólar à vista subia 0,06%, a R$5,8694 na venda. Na quarta, o dólar caiu 0,41%, a R$ 5,866, e a Bolsa perdeu 0,71%, a 128.316 pontos.

As negociações seguiram pautadas pela política comercial dos Estados Unidos. O governo Donald Trump restringiu a venda de chips da Nvidia para a China, em uma nova escalada da disputa entre os dois países.

As exportações do chip H20 —um dos produtos mais populares da gigante de tecnologia— para os chineses agora terão de contar com uma licença específica “por tempo indeterminado”.

A preocupação é que os produtos “sejam usados ou desviados para um supercomputador na China”, afirmou a Nvidia em documento divulgado na terça-feira. A empresa alertou que deve deixar de ganhar US$ 5,5 bilhões (R$ 33 bilhões) com a restrição, e as ações tombaram 6,8%.

A restrição se soma a outras medidas em curso desde 2022, quando Nvidia e outras fabricantes de chips de inteligência artificial foram proibidas de vender modelos avançados para a China. À época, a justificativa era de que a tecnologia poderia dar a Pequim vantagens militares.

O chip H20 foi projetado justamente para atender às legislações e à demanda chinesa. Ele é menos potente e não tem o mesmo desempenho dos produtos topo de linha da companhia, mas ainda pode ser usado para desenvolver e executar softwares, especialmente na fase de inferência —isto é, quando a IA reconhece padrões e tira conclusões.

“A restrição traz a preocupação de que os dois países realmente irão entrar em uma rota de colisão com resultados bastante prejudiciais para eles e para o resto do mundo, tendo em vista essa desconexão bruta e rápida de seus mercados”, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.

O mercado, além disso, teme novos encargos ao setor. O governo republicano abriu investigações de segurança nacional sobre a importação de chips semicondutores e equipamentos de fabricação de semicondutores, bem como sobre produtos farmacêuticos, seus ingredientes e materiais derivados.

As medidas podem levar à cobrança de tarifas sobre os dois setores. É um objetivo de Trump, como ele próprio tem dito, e autoridades dos EUA comentaram no fim de semana que produtos eletroeletrônicos como celulares e computadores poderiam ser incluídos na investigação sobre chips.

A licença para o H20 da Nvidia segue a esteira de uma notícia de que a China havia suspendido a compra de aeronaves da Boeing, ainda não confirmada por Pequim.

As duas maiores economias do mundo têm estado em cabo de guerra desde 2 de abril, quando Trump tornou o tarifaço público. A China agora enfrenta tarifas de até 245%, e os Estados Unidos, 125%.

Segundo a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, Trump está aberto a fazer um acordo comercial com a China, mas Pequim deve dar o primeiro passo.

“A bola está com a China. A China precisa fazer um acordo conosco, nós não precisamos fazer um acordo com eles. O presidente deixou bem claro que está aberto a um acordo com a China.”

Trump tem ido e vindo com a política tarifária —e, assim, despertado incertezas entre os operadores. Na segunda, ele afirmou que estava “buscando algo para ajudar as montadoras” de veículos na América do Norte.

Na sexta, isentou um grande leque produtos eletrônicos das tarifas anunciadas no 2 de abril, o “dia da libertação”, e conversas entre negociadores comerciais norte-americanas e japonesas são esperadas para esta semana.

O entendimento de que há espaço para negociações alivia parte das tensões que pressionaram os mercados nas últimas semanas, mas não as elimina por completo.

O principal temor é que as tarifas afetem profundamente o comércio internacional pela diminuição de fluxos e encarecimento de produtos-chave nas cadeias de abastecimento. Isso poderia trazer um repique para a inflação global e levar algumas das principais economias do mundo, incluindo os Estados Unidos, a uma recessão.

Em discurso nesta tarde, o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), Jerome Powell, disse que o tarifaço “provavelmente” colocará em risco os objetivos de manter os preços e o desemprego sob controle

“O governo [Trump] está implementando mudanças políticas significativas, e o comércio, em particular, agora é o foco. Os efeitos disso provavelmente nos afastarão de nossos objetivos.”

A expectativa dos mercados é que a taxa de juros dos EUA permaneça elevada por mais tempo do que o previsto, “justamente pelo fato de que as tarifas podem gerar mais inflação”, diz Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

“Esperamos ter mais indícios de como serão os próximos passos do Fed nos próximos pregões.”

Em meio à incerteza, é comum que operadores aloquem recursos em ativos de segurança, como o dólar e títulos ligados ao Tesouro dos EUA (treasuries, em inglês). Mas o oposto tem ocorrido.

O dólar registrou perdas firmes em relação às demais moedas, em especial as de mercados fortes —movimento medido pelo índice DXY, que o compara a uma cesta de outras seis divisas. O DXY caiu 0,86%, a 99,35. Números abaixo de 100 indicam desvalorização.

“É um movimento típico de perda de credibilidade, que países emergentes sofrem comumente, mas que é raro para a economia americana. Isso sugere que a atual incerteza causada pela política tarifária tem tornado os investidores globais receosos com a economia americana, buscando maior liquidez e alternativas ao dólar”, diz André Valério, economista sênior do Inter.

noticia por : UOL

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