A influenciadora fitness Gracyanne Barbosa, participante desta edição do BBB, revelou em uma entrevista que come 40 ovos por dia. Isso reacendeu o debate sobre o papel dos ovos, herói e vilão da nossa saúde.
A cada semana surge uma nova pesquisa, que contradiz a anterior e que será desmentida por uma futura. Ficam as perguntas: Afinal, tomar uma taça de vinho por dia faz bem ou mal? Vitamina D é tudo isso que falam? Viagra realmente previne Alzheimer?
“Vivemos em um mundo totalmente dependente de ciência e tecnologia, mas que ninguém sabe ciência e tecnologia”. A definição de Carl Sagan, extraída do artigo “Why We Need To Understand Science”, nunca fez tanto sentido no cenário de informações cada vez mais abundantes e contraditórias.
A coleta de dados, por si só, é insuficiente para nos dar as fórmulas certas. Se a compreensão das pesquisas não tiver a capacidade de distinguir correlação e causalidade, fatalmente fornecerá informações parciais ou falsas.
Vamos ao exemplo clássico: o consumo de sorvete aumenta o número de casos de afogamentos. Fato. Embora essa correlação seja um fato estatístico, obviamente não implica que um cause o outro. A única correlação que existe entre elas é a variável da temperatura. Elementar: em dias de calor, as pessoas consomem mais sorvetes e vão mais à praia.
Uma das formas para evitar confundir correlação e causalidade é inverter a ordem das variáveis e analisar se a relação ainda fará sentido. Será que afogamentos aumentam a venda de sorvetes? Ou, se forem vendidos mais sorvetes, a temperatura ficará mais alta? No entanto, como ainda podem existir outras variáveis que influenciam a relação, essa abordagem, por si só, não é suficiente para determinar causalidade.
Interpretar dados é crucial para navegarmos no mundo dominado pela IA, não só porque ela segue padrões, mas porque o nosso cérebro também pensa assim. O psicólogo Daniel Kahneman, Nobel de Economia, explica que tendemos a reconhecer padrões, o que nos torna propensos a acreditar que eventos correlacionados estão necessariamente vinculados por uma relação de causa e efeito.
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A lista de estatísticas rasas é grande. “A exposição aos ruídos do tráfego aumenta a gordura corporal abdominal” (no mínimo uma boa desculpa para justificar nossos pneuzinhos). “Comer uma banana por dia prolonga a vida” (mais efetivo é dar uma banana para pessoas chatas, que não só prolonga, mas melhora a vida). “Notívagos têm melhor performance cognitiva do que pessoas diurnas” (mas: “Dormir entre as 22h e as 23h proporciona um menor risco de doenças cardíacas”). “Tomar suplemento de Vitamina D é a salvação” (mas: “A vitamina D pode aumentar as doenças cardíacas”). “Tomar chá de camomila diminui 29% o risco de morte em mulheres idosas”. Mesmo que alguém tenha tempo para consumir todos os alimentos recomendados em busca de uma vida longa (para caber tudo, realmente precisará de uma vida longa), se não tiver hábitos saudáveis, uma boa genética e boa condição social, pode tomar litros de chá de camomila e esperar sentado pelos resultados positivos.
Tyler Vigen, criador do site “Spurious Correlations” e autor do livro homônimo, trata com humor a obsessão por pesquisas, reunindo exemplos bizarros de correlações. Uma das manchetes bombásticas que ele apresenta é que o consumo de margarina está ligado a taxa de divórcios. Será que a margarina tem moléculas que torcem pela briga de casais? Na dúvida, para quem quiser uma relação longeva, recomenda-se substituir margarina por manteiga – se bem que a última pesquisa apontou que margarina é mais saudável do que manteiga.
Se ovos fazem bem à saúde? A única resposta plausível é: depende.
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noticia por : UOL