11 de janeiro de 2025 - 5:05

O início da trilogia: 30 anos de “A Nova Era e a Revolução Cultural”, de Olavo de Carvalho

Em 1994, antes do PT subir ao poder e se estabelecer como partido hegemônico, o professor Olavo de Carvalho alertava, solitariamente, a quem tinha ouvidos. Em “A Nova Era e a Revolução Cultural – Fritjof Capra e Antonio Gramsci” (disponível atualmente em edição de 2016 da Vide Editorial), o primeiro livro da trilogia, completada por “O Jardim das Aflições” e terminada com “O Imbecil Coletivo – Atualidades Inculturais Brasileiras”, o filósofo trouxe uma introdução a vários problemas que o Brasil enfrentaria. Revolução cultural, hegemonia da esquerda, o totalitarismo do PT, e até o ativismo judicial eram alguns deles.

O livro é composto por textos esparsos de Olavo, que assim trazem alguma irregularidade à obra, logo explicada na introdução pelo próprio autor. Ele deve ser lido como uma parte da trilogia, quando então o leitor poderá observar a unidade do pensamento olavista. É um estilo muito mais afeito ao temperamento do professor, que nunca se dirigia a “coletividades abstratas”, mas a “indivíduos de carne e osso”, apresentando uma filosofia menos “arrumadinha” do que a academia exige.  

O livro completou 30 anos no fim do ano passado, por isso uma releitura da obra se faz necessária. Tanto para preservar a memória daquele que abriu caminhos para a direita, quanto para enfrentar novos e velhos problemas.

Gramsci e Capra

Antonio Gramsci (1891-1037) foi o filósofo marxista italiano que desenvolveu aquilo que seria a grande mudança da esquerda na segunda parte do século XX. Para ele, era preciso instrumentalizar a cultura, tanto mais do que ocupar politicamente o Estado. Trata-se da chamada “Revolução Cultural,” que se instalou a partir da dominação esquerdista em universidades, redações e na mídia em geral. Já a “Nova Era” tem o austríaco Fritjof Capra como porta-voz e é um conceito um pouco mais vago. Aqui, temos ideais relacionados à “integração na natureza” e “equilíbrio ecológico”, disseminados a partir de iniciações secretas, gurus e seitas.

Para Francisco Escorsim, professor e colunista da Gazeta do Povo, a Revolução Cultural tem uma história e se insere dentro de uma escola de pensamento clara, enquanto a Nova Era absorve o “espírito do tempo”. Ele ressalta, em relação à primeira, que se trata de um fenômeno que supera a dicotomia entre direita e esquerda, pois ambas buscam instrumentalizar a cultura, ainda que a esquerda tenha muito mais sucesso.

Ricardo de Carvalho, professor, tradutor e aluno do COF (Curso Online de Filosofia de Olavo de Carvalho) aponta relações dos fenômenos com a pauta “woke”. Os movimentos identitários, assim, são consequência desta ocupação cultural, preconizada por Gramsci. E também explica os novos contornos da “Nova Era”: “só ver o tanto de coaches quânticos e grupos esotéricos surgindo a cada semana, alcançando influência na política e na cultura, seja na esquerda ou na direita”

Poder Judiciário: um novo agente?

Outro importante fenômeno observado no livro é o que Olavo chamou de “estado policial em nome da moralidade”. O professor vislumbrou que a campanha de “moralização da política” do PT era, na verdade, apenas uma forma de “politizar a ética”, escondendo intenções torpes, como a “universalização da suspeita”. E profetizou “quem viver, verá”.

Nós que vivemos mais do que o professor, vemos que o Judiciário passou a ocupar este papel, mais do que outro partido. Ricardo, porém, ressalta uma diferença: “embora o Judiciário tenha se tornado instrumento importante da agenda revolucionária, o discurso da ética me parece que tem sido evitado. Ouve-se sim falar em ‘democracia’, como o mais alto valor a ser preservado no país”. Para ele, tal fenômeno é melhor explicado em “O Jardim das Aflições”, sobretudo com a ideia “religião civil”. Já Escorsim diz que o ativismo judicial se alinha dentro do contexto da Revolução Cultural, ainda que seja uma “linha de contato acidental”. 

Olavo de Carvalho, no governo de Jair Bolsonaro, seguiu nos alertando sobre todos esses problemas, afirmando que a reeleição do ex-presidente seria assim improvável. Muitos não deram ouvidos novamente e hoje a direita nunca foi tão perseguida. Reler “A Nova Era e a Revolução Cultural”, porém, pode apresentar novos caminhos, pois um autor de tal grandeza sempre permanecerá vivo e atual.

noticia por : Gazeta do Povo

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