17 de junho de 2025 - 17:26

Oba! Uma guerra para nos distrair de nossas guerras

O entusiasmo com que as pessoas acompanham o mais recente capítulo da guerra no Oriente Médio chega a ser comovente. A tudo se assiste com aquele fascínio asséptico de quem acha que a vida é videogame. De quem, do conforto do seu lar, não sente o cheiro da morte nem vê o terror nos olhos do homem comum, seja ele israelense ou iraniano. Definitivamente a guerra virou um fetiche.

Mais pungente ainda é quem anseia por um conflito nuclear. Sim, eles existem – e são legião. É uma gente que se acostumou a enxergar o mundo e a vida pelas lentes da geopolítica, convenientemente ignorando o fato de que, se um cogumelo atômico vier mesmo a se formar sobre Teerã ou Tel-Aviv, pessoas, seres humanos, vidas serão perdidas. A do terrorista islâmico maluco, mas também a de gente boa e inocente nesse imbróglio todo. Sim, elas existem.

#guerranucleareusobrevivi

É interessante notar como a moral foi excluída da discussão sobre as guerras. Analistas geopolíticos falam em cifras, em terras raras e em acesso a rotas comerciais. Falam até na abstratíssima (mas real) afinidade ideológica entre os líderes das potências mundiais e dos países em conflito. Mas não falam da guerra como uma confissão de derrota da Humanidade. Porque guerra é sempre barbárie. Por mais avançados que sejam os drones.

Agora mesmo fiz uma pausa no texto, dei uma voltinha pelas redes sociais e vi alguém clamar pela bomba atômica sobre Teerã. De novo. Como se jogar um artefato desses, matando centenas de milhares de inocentes, fosse a coisa mais simples do mundo. Como se o espetáculo do cogumelo atômico valesse a pena, nem que fosse para postar no Instagram ou para usar a hashtag #guerranucleareusobrevivi. Aí está o horror da guerra: ela banaliza o assassinato em nome de um bem maior que ninguém sabe direito qual é. (Você sabe?).

Soldado careca velho de guerra

E, no entanto, temos guerra. Essa do Irã contra Israel. Aquela da Rússia contra a Ucrânia. E se as guerras fossem apenas essas, distantes e espetaculosas… Mas não. Guerra, guerra, guerra. São tantas as guerras. A guerra ideológica, a jurídica, a político-eleitoral. Tem também a guerra cultural – de cujas fileiras ainda faço parte, por mais combalido que este soldado careca velho de guerra (!) aqui esteja. Sem falar na guerra espiritual.

Será que é dessas guerras todas que tentamos desertar quando eclode uma guerra como a do Irã contra Israel? Sim. Porque é mais fácil acompanhar, analisar e até torcer para um dos lados belicosos quando não é a nossa liberdade, nossa vida e nossa alma que estão em risco. E eu sei que isso é óbvio. De uma obviedade quase repugnante. Mas é a tal coisa: tudo já foi dito uma vez; mas, como ninguém ouviu, é preciso que se repita tudo de novo.

noticia por : Gazeta do Povo

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