14 de junho de 2025 - 9:44

Bispo sofre retaliação após denunciar perseguição e sua aldeia é atacada por radicais

O bispo Wilfred Anagbe, da diocese de Makurdi, no estado de Benue, relatou ter sido ameaçado por autoridades nigerianas e viu sua aldeia natal ser atacada após denunciar a violência contra cristãos durante uma audiência no Congresso dos Estados Unidos, realizada em março.

Após o testemunho em Washington, em que detalhou uma série de ataques violentos contra comunidades cristãs no centro da Nigéria, Anagbe passou a receber alertas de embaixadas estrangeiras.

Em abril, diplomatas informaram que o bispo poderia ser preso ao desembarcar em seu país e que “algo poderia acontecer com ele”, segundo relatos feitos à imprensa norte-americana.

O deputado americano Chris Smith, presidente da Comissão de Direitos Humanos Globais do Congresso, declarou em 03 de junho:

“Estou chocado com os relatos de que o bispo Wilfred Anagbe e o padre Remigius Ihyula (que testemunhou ao lado do bispo Anagbe) estão enfrentando ameaças – supostamente de fontes do governo nigeriano e organizações afiliadas – por causa do testemunho do bispo perante o Congresso detalhando a violência no estado de Benue. Eles refletem um padrão preocupante de retaliação ligado ao testemunho perante o Congresso sobre abusos da liberdade religiosa na Nigéria”.

Quatro ataques em menos de dez dias

Entre 23 de maio e 1º de junho, quatro ataques foram registrados na região de Makurdi. No dia 23 de maio, o padre Solomon Atongo, da diocese de Anagbe, foi baleado. Dois dias depois, em 25 de maio, a aldeia natal do bispo, Aondona, foi alvo de uma investida armada que durou horas.

“Mais de 20 pessoas foram mortas, dezenas ficaram feridas e milhares agora vivem deslocadas em acampamentos improvisados”, afirmou Anagbe em entrevista publicada pela Fox News.

No dia 1º de junho, um novo ataque ocorreu na cidade de Naka. Segundo o bispo, nem os deslocados que buscavam abrigo em uma escola local escaparam. “Este ataque foi tão intenso que mesmo aqueles que antes estavam deslocados e se refugiaram em uma escola próxima não foram poupados”, declarou.

Para Anagbe, os episódios não são isolados: “O que está acontecendo em minha aldeia e diocese é nada menos que ataques terroristas contra aldeões inocentes para tomar suas terras e ocupar”, disse. Ele atribui os ataques a “uma jihad” em curso no país, com o objetivo de “conquistar territórios”.

Apelo

O bispo Wilfred Anagbe fez um apelo à comunidade internacional para que intervenha diante do que considera um genocídio em curso. Em sua declaração, comparou a situação na Nigéria ao Holocausto e ao genocídio de Ruanda.

“O mundo tem muito a fazer. Em primeiro lugar, o mundo deve aprender com os erros do passado, o Holocausto e, mais recentemente, o genocídio de Ruanda. Em ambos os casos, o mundo escondeu o rosto na areia como um avestruz”, afirmou.

Ele advertiu ainda: “Se o mundo não se levantar agora para acabar com as atrocidades orquestradas em nome do politicamente correto, poderá acordar um dia com as baixas que tornam o genocídio de Ruanda uma brincadeira de criança. Ficar quieto seria promover o genocídio ou a limpeza étnica na Nigéria”.

Mais de 10 mil mortos desde 2023

Dados reunidos por organizações da sociedade civil e veículos de imprensa revelam que, entre maio de 2023 e junho de 2025, ao menos 10.217 pessoas foram mortas em episódios de violência armada em diferentes regiões da Nigéria.

Segundo a Anistia Internacional Nigéria, o estado de Benue concentrou 6.896 vítimas, seguido pelo estado de Plateau, com 2.630 mortes. Apenas nos estados de Benue, Plateau e Kaduna, 672 aldeias foram saqueadas. A maioria dessas comunidades era formada por agricultores cristãos.

O governador de Plateau, Caleb Mutfwang, declarou publicamente que os ataques em série no estado constituem “um genocídio”.

Crise humanitária se agrava

A onda de violência resultou em uma grave crise humanitária. Milhares de pessoas estão deslocadas, vivendo em escolas, igrejas e espaços abertos, com acesso limitado a água potável, alimentos e atendimento médico. Organizações de ajuda humanitária relatam dificuldades para atender à demanda crescente por assistência emergencial.

A Nigéria ocupa atualmente o 7º lugar na Lista Mundial da Perseguição 2025, publicada pela Missão Portas Abertas, que monitora a liberdade religiosa em mais de 60 países. A lista destaca a escalada da perseguição religiosa, sobretudo contra cristãos, e os desafios enfrentados por líderes religiosos que denunciam as violações.

FONTE : Gospel Mais

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