11 de junho de 2025 - 10:01

Evangélicos negam estagnação após Censo 2022 e questionam metodologia do IBGE

Lideranças evangélicas manifestaram insatisfação com a interpretação de que os dados do Censo 2022 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indiquem estagnação do crescimento evangélico.

O levantamento aponta que 26,9% da população brasileira com mais de 10 anos se declara evangélica. Ou seja: um a cada quatro brasileiros são evangélicos.

O número representa crescimento em relação a censos anteriores, mas ficou abaixo das projeções feitas por lideranças religiosas e analistas do setor. Causa estranheza também a demora na divulgação dos dados pelo IBGE, três anos após a coleta dos dados.

O pastor Silas Malafaia, líder da Igreja Vitória em Cristo, questionou a credibilidade do levantamento. “Eu não fico preocupado com essa questão numérica de percentagem, se cresceu mais, se cresceu menos. Fico até rindo”, afirmou. Em seguida, declarou: “Tem um monte de coisa para ser questionada. Eu, com todo respeito, onde a esquerda mete a mão, tenho dúvida. Só para te dizer, eu não acredito em número desses caras”.

A coleta de dados do Censo 2022 teve início durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e foi concluída na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O IBGE divulgou os resultados sobre religião atualizados apenas este mês.

Malafaia afirmou que o foco de sua preocupação não está nos números, mas no avanço das ações da igreja. “A igreja está crescendo, estamos pregando o Evangelho”, disse. O pastor também destacou que, em sua avaliação, o engajamento dos evangélicos é mais frequente do que o de outros grupos cristãos: “Quando alguém diz que é evangélico, é que pelo menos uma vez por semana vai na igreja. É tão interessante isso que, se o cara estiver afastado da igreja, ele não diz que é evangélico, porque sabe que, para ser, tem que praticar, tem que estar membro de uma igreja”.

Ele ainda comparou a prática religiosa entre católicos e evangélicos: “Muitos católicos não sabem nem os dogmas da sua religião, as leis que envolvem o cristianismo que eles dizem que creem”, declarou. Segundo ele, o IBGE não contabiliza os chamados “católicos praticantes”, embora outras pesquisas indiquem sua existência em número relevante.

O apóstolo Estevam Hernandes, fundador da Igreja Renascer em Cristo e organizador da Marcha para Jesus, também contestou os números apresentados pelo IBGE. “O crescimento real é maior do que o levantamento feito”, afirmou. De acordo com Hernandes, projeções internas e sua própria experiência indicam que os evangélicos já superam 35% da população. “Sentimos nas igrejas, e também há o reflexo da presença de evangélicos em todos os setores da sociedade”, completou.

Ele atribuiu a suposta subnotificação ao momento de coleta dos dados: “Foi no período pós-pandemia, e também pelo tempo da pesquisa”, observou.

Hernandes também mencionou mudanças na metodologia, como a exclusão de crianças com menos de dez anos de idade, o que, segundo ele, pode ter reduzido a proporção registrada de evangélicos: “O povo evangélico tem média de idade bem abaixo dos católicos. Não atribuo a uma falha, mas acho que precisa fazer correção do método”, argumentou.

César Augusto, líder da igreja Fonte da Vida, manifestou opinião semelhante e sugeriu que os dados possam ter sido manipulados: “O que a gente vê é um crescimento muito maior. Hoje, seguramente, os evangélicos são mais de 34% da população”, afirmou. Ele argumenta que a crescente presença dos evangélicos na mídia e na cultura popular reforça essa percepção. “Você vê como estão se voltando para o público evangélico, cantores gravando músicas evangélicas, porque é um crescimento visível, e em todas as camadas da sociedade”.

Augusto também levantou a hipótese de que questões ideológicas possam ter influenciado os resultados. “Querendo ou não, tem segmentos que se incomodam com nosso crescimento, especialmente o pessoal de esquerda. Cada dia tem uma igreja abrindo. Aluga-se um salão, põe 50, 100 cadeiras, um microfone, uma caixa de som, um violão. Daqui um mês está cheio. Então, como que pode ser só 26,9%?”, questionou.

O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), integrante da Igreja Vitória em Cristo e ex-presidente da Frente Parlamentar Evangélica, também comentou os dados. Segundo ele, o avanço do segmento pode impactar diretamente a política nacional: “Evangélicos têm tendência a serem conservadores e de direita, na sua maioria. No segmento como um todo, 80% tendem a ser de direita, talvez uns 15% ainda se identifiquem com a pauta de esquerda, e 5% não têm preferência”, afirmou, sem apresentar fonte para os números mencionados.

Cavalcante estima que, até 2030, os evangélicos serão maioria no Brasil. A previsão é mais otimista do que a feita anteriormente pelo demógrafo José Eustáquio Alves, que projetava essa mudança para 2032, mas revisou sua estimativa com base nos novos dados.

Entre as lideranças religiosas, houve também posicionamentos mais moderados. O pastor presbiteriano Victor Fontana, da Comunidade da Vila, afirmou não ver falhas nos dados divulgados pelo IBGE. Segundo ele, o crescimento mais lento pode estar ligado a problemas de credibilidade enfrentados por igrejas evangélicas.

“Eu me refiro, por exemplo, à recente pesquisa da Atlas/Intel que mostra 73% dos participantes alegando desconfiança em relação às igrejas evangélicas. Motivos para isso? Eu diria que o número de escândalos financeiros e sexuais contribuem muito, além de uma ligação mal pensada com a política partidária”, disse, de acordo com a Folha de S. Paulo.

O Censo 2022 é a pesquisa demográfica oficial do país e tem como base entrevistas domiciliares realizadas em todas as regiões. A divulgação do recorte sobre religião é um dos desdobramentos mais aguardados por diferentes setores sociais e políticos, considerando a relevância crescente do segmento evangélico no Brasil.

FONTE : Gospel Mais

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