A retrospectiva segue uma linha cronológica, útil para entender como a artista, apesar de ter bebido direto da fonte das vanguardas europeias, criou cedo uma linguagem própria e pioneira. Suas primeiras pinturas, do final da década de 1940 e início da década de 1950, época em que estudou em Paris com mestres como Fernand Léger, têm forte influência cubista, mas já é possível vislumbrar o seu intento de dissolver a fronteira entre imagem e o espaço.
Seu passo decisivo nessa direção foi a criação do conceito de “linha orgânica” – um traço que não delimita ou separa planos, mas que serve como um espaço intermediário vivo. A “linha orgânica” surge, por exemplo, quando duas superfícies se tocam, como a moldura e a tela, e a linha que as separa é, ao mesmo tempo, a linha que as une. Esse conceito marca a transição de Lygia Clark do concretismo geométrico para uma abordagem mais sensível e fluida da forma e da linha.
“Acho que o mais interessante para nós foi ver a rapidez com que ela se desenvolveu e chegou a uma linguagem artística própria”, disse Maike Steinkamp, a outra curadora da mostra.
A ideia de “linha orgânica” foi inicialmente aplicada nas obras “Descoberta da Linha Orgânica”, de 1954. As curadoras da retrospectiva conseguiram reunir os três quadros dessa série existentes, todos de coleções particulares – um deles veio da sala de estar da cantora Marisa Monte, no Rio de Janeiro.
Elas estiveram no Brasil dois anos atrás para pesquisa e prospecção de obras. Contaram com a ajuda de Jones Bergamin, dono da Bolsa de Arte, a maior casa de leilões do Brasil, e do galerista Max Perlingeiro, da Pinakotheke, que fizeram a ponte até colecionadores no Rio de Janeiro e em São Paulo.
“Esse é um dos principais esforços de Clark: ela queria explorar o espaço e sair da moldura e fazer parte da sala ou do espaço humano, por assim dizer. Por isso, queríamos mostrar todo esse desenvolvimento”, afirmou Steinkamp.
noticia por : UOL