21 de maio de 2025 - 0:35

Janja: não há protagonismo sem questionamento

Mulheres também erram, podem ser incoerentes, equivocadas, oportunistas, desonestas. Estamos à mercê de críticas, mesmo as que consideramos descabidas, e nem sempre a raiz dessas avaliações é o machismo. Isso vale para mim, para as mães de bebês reborn, para a primeira-dama Janja.

O feminismo não nos garante nenhum tipo de imunidade. Nosso estatuto não vem com salvo-conduto que nos isente de questionamentos, e eu nem gostaria de ter essa blindagem quando o que desejo é ser tratada de igual para igual. Enfraquecemos o movimento sempre que tentamos encaixar no espectro do machismo críticas, atitudes e até injustiças que passam longe do debate sobre desigualdade e violência de gênero.

É cansativo ter que repetir, mas aqui vai: feminismo é luta por igualdade, não por idolatria. Essa reivindicação inclui o desconforto de ser julgada, criticada e zoada como qualquer homem. Não podemos transformar desaprovação em opressão, trocar análise por muleta ideológica e militância por vitimismo. Quando o machismo real aparece —e ele está por todos os lados— o público já mudou de canal.

Uma de nossas bandeiras é justamente questionar a exigência de um padrão de perfeição inalcançável. Que sejamos magras, jovens, produtivas, equilibradas, mães exemplares, profissionais impecáveis. Portanto, não podemos nos isentar das consequências de nossos posicionamentos. Se queremos o direito de sermos humanas, falhas, reais, precisamos aceitar que seremos criticadas. Não dá para querer reconhecimento sem contrapartida, liberdade sem consequência, protagonismo sem questionamento.

Igualdade também é isso: colocar-se na posição de ser elogiada ou cobrada, como qualquer pessoa adulta.

Usar o feminismo como cortina de fumaça para driblar responsabilidade é munição para quem quer enterrar a pauta. Não se enfrenta o patriarcado com pano e óleo de peroba para comportamentos inadequados ou estranhos só porque vêm de mulher. Ele é combatido com seriedade, critério e, às vezes, coragem para dizer: isso aí não tem nada a ver com gênero, é só falta de noção mesmo.


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noticia por : UOL

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