
O teólogo e filósofo William Lane Craig voltou a causar polêmica no meio cristão ao declarar que crianças não têm pecado, assim como pessoas com deficiência mental, contrariando a doutrina histórica do pecado original. A declaração provocou reações entre líderes evangélicos de diversas tradições, especialmente nas igrejas reformadas.
Entre os críticos, o pastor Rodrigo Mocellin, da Igreja Resgatar, em Guaratinguetá (SP), gravou um vídeo em que contesta as afirmações de Craig à luz das Escrituras e da tradição cristã.
Para ele, a fala representa uma negação de fundamentos essenciais da fé evangélica: “Isso aqui é heresia. É muita, muita heresia. Craig está negando uma doutrina básica da fé cristã, conhecida como pecado original”.
Crianças não têm pecado?
Durante uma exposição recente, Craig afirmou:
“Se, como eu, você não está convencido de que essa doutrina é bíblica, então os bebês e os deficientes mentais não nascem pecadores e, portanto, não têm nenhum pecado que precise ser perdoado ou indultado. E acho que isso está de acordo com a atitude de Jesus em relação às crianças”.
Baseado em textos como Mateus 18:3, Craig argumenta que Jesus via as crianças como puras e salvas por natureza. Para o filósofo, essa visão explicaria por que o Reino dos Céus é comparado a elas.
A resposta bíblica
O pastor Rodrigo Mocellin, que segue a tradição teológica reformada, rebate: “Craig está ignorando textos claríssimos das Escrituras”. Ele cita Romanos 5:12, onde o apóstolo Paulo afirma: “Portanto, como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso todos pecaram”.
Segundo Mocellin, o texto bíblico aponta para a realidade de que o pecado de Adão foi imputado a toda a humanidade. “A morte atinge até os bebês. Por quê? Porque a culpa de Adão está sobre eles. Se não houvesse pecado, não haveria morte. Mas crianças morrem — isso é evidência clara da condição pecaminosa herdada”.
Além de Romanos, ele recorre a Salmo 51:5 (“em pecado me concebeu minha mãe”), Gênesis 8:21 (“o coração do homem é mau desde a meninice”) e Provérbios 22:15 (“a estultícia está ligada ao coração da criança”) para mostrar que a Escritura atribui pecado e culpa desde o nascimento.
“Esses textos, que Jesus chamou de Palavra de Deus, estão afirmando a pecaminosidade da criança. E Jesus não está em contradição com eles”, afirma.
Paralelo com o pelagianismo
Mocellin também observa semelhanças entre as ideias de Craig e o pelagianismo, doutrina condenada no século V: “Pelágio dizia que o pecado de Adão não afetou a natureza humana. Craig repete isso com outras palavras. O Concílio de Cartago chamou esse ensino de heresia e declarou anátema quem dissesse que a culpa de Adão não foi transmitida à humanidade”, recorda.
O pastor da Igreja Resgatar cita o Cânon I do concílio:
“Se alguém disser que o pecado de Adão não afetou a humanidade inteira, mas que foi apenas um exemplo de erro, que tal pessoa seja anátema”.
A influência da ciência
Em outro trecho do vídeo, Mocellin propõe uma explicação para a mudança teológica de Craig: sua adesão à ciência moderna como critério final de verdade: “Ele mesmo diz que Gênesis é mito-história. Por quê? Porque a ciência fala de Big Bang, de evolução, e Craig quer adaptar a Bíblia a isso. Mas, ao fazer isso, ele nega a autoridade da Escritura”.
Segundo o pastor, essa tentativa de submeter a Bíblia aos pressupostos científicos está na raiz do liberalismo teológico. “Foi assim que tudo começou. Colocaram a ciência como fonte última de autoridade. E quando a Bíblia contrariava a ciência, começaram a reinterpretar tudo — ou simplesmente negaram o texto bíblico”.
Mocellin afirma que muitos líderes seguem esse mesmo caminho: “Hoje dizem que ansiedade não é pecado, mesmo que a Bíblia diga que é. Dividem em ansiedade ‘transtorno’ e ansiedade ‘pecaminosa’, mas não apresentam critério bíblico para isso. Fazem isso porque a ciência virou sua fonte de verdade”.
A importância da doutrina
Para o pastor reformado, a doutrina do pecado original está no cerne da mensagem do Evangelho: “Se não fomos condenados em Adão, também não podemos ser justificados em Cristo. Só faz sentido um Cristo que salva muitos, se houver um Adão que condena todos”.
Ele conclui alertando: “Tome cuidado com esses pastores que hoje parecem bíblicos, mas colocam a ciência acima da Bíblia. Amanhã, podem estar negando doutrinas fundamentais da fé cristã”.
FONTE : Gospel Mais