10 de maio de 2025 - 4:40

Quem foi Santo Agostinho, referência do papa Leão XIV 

Em seu primeiro pronunciamento depois de ter sido escolhido como líder da Igreja Católica, Leão XIV disse ser um “filho de Santo Agostinho”. 

Ele também tem sido descrito como o primeiro papa “agostiniano” — o que, embora tecnicamente correto, é também uma imprecisão. De certa forma, todos os papas dos últimos 15 séculos foram agostinianos. 

A influência de Santo Agostinho sobre a Igreja Católica só é comparável à de São Tomás de Aquino, que viveu 800 anos depois. 

A importância teológica deste bispo nascido na África é tão grande que deixou sua marca nas convicções teológicas de um dos principais ramos do protestantismo. 

Agostinho é reconhecido como santo não só na Igreja Católica, mas também na Ortodoxa, na Luterana e na Anglicana. 

Africano imerso na cultura romana 

Agostinho nasceu em Hipona, uma cidade romana no norte da África (em uma área hoje pertencente à Argélia). O pai dele era um oficial a serviço de Roma, o que garantiu ao jovem uma vida tranquila — apesar de não abastada — e uma educação de qualidade. 

Agostinho, portanto, era africano mas estava imerso em uma cultura romana e sob a influência indireta da civilização grega. Estudioso da filosofia de Aristóteles e Platão, ele foi membro da herética seita dos maniqueus (de onde vem o termo “maniqueísta”) antes de se converter. 

Depois de concluir seus estudos em cidades romanas no norte da África, incluindo Cartago, Agostinho foi professor de retórica em Roma e Milão. Mas ele decidiu retornar à terra-natal — onde havia deixado um filho que teve com uma de suas muitas companhias femininas. Já convertido ao Cristianismo, ele se tornou sacerdote em 391 e foi promovido bispo de Hipona em 396, quando tinha 45 anos. Agostinho ocupou o cargo até a morte. 

Em 430, Hipona foi cercada pelos vândalos, uma tribo bárbara que vinha atacando o Império Romano e suas províncias. Em meio ao bloqueio, Agostinho morreu. Ele tinha 76 anos de idade, e provavelmente sua saúde havia sido afetada pela falta de suprimentos. 

Confissões íntimas 

A obra de Agostinho concilia uma visão teológica bem-articulada, uma prosa de qualidade e um tom pessoal que era incomum para autores daquele período. 

O bispo de Hipona viu de perto o colapso do Império Romano, o que o marcou profundamente. É nesse contexto que Agostinho elaborou A Cidade de Deus. Na obra, ele contrasta o reino falho e imperfeito da vida material (a Cidade dos Homens) com a perfeição do reino dos céus (a Cidade de Deus).  

Em Confissões, Agostinho faz um relato em que mistura a sua autobiografia com reflexões sobre a natureza de Deus. A obra narra o processo de conversão de Agostinho, aos 32 anos de idade — em grande parte graças à influência da mãe, Mônica. 

Boa parte do livro relata a luta de Agostinho contra sua natureza pecaminosa, que ele chama de “a insaciável concupiscência”.  

Agostinho era um libertino antes de se tornar cristão. “Quero recordar as minhas torpezas passadas e as depravações carnais da minha alma, não porque as ame, mas para Vos amar, ó meu Deus”, ele escreve, em Confissões

O caráter intimista da obra transparece em frases como “Eu, jovem tão miserável, sim, miserável desde o despertar da juventude, tinha-Vos pedido a castidade, nestes termos: ‘Dai-me a castidade e a continência; mas não agora’”. 

Confissões também traz reflexões teológicas. Por exemplo: o que fazia Deus antes de criar o universo? Nada, já que o próprio tempo surgiu junto com a criação — uma ideia que seria corroborada muitos séculos depois pela física moderna e o conceito de espaço-tempo. 

No livro, ele afirma que o mau não existe como substância, porque tudo o que Deus criou é bom. O mau é apenas a ausência de Deus. 

Em Cidade de Deus, Agostinho ainda levanta a hipótese de que os seis dias da Criação, descritos em Gênesis, talvez não tenham sido seis dias literais, e sim períodos distintos do processo de criação. 

A influência de Agostinho foi tão grande que também se desdobrou sobre o protestantismo. João Calvino, um dos principais teólogos protestantes e figura na Igreja Presbiteriana, era um admirador de Agostinho. A tese calvinista sobre o livre-arbítrio e as consequências universais do pecado foi diretamente influenciada por Agostinho. 

Quem são os agostinianos 

O papa Leão XIV é um agostiniano porque pertence à Ordem de Santo Agostinho (OSA). 

A Ordem de Santo Agostinho ganhou corpo em 1256, embora seguidores do bispo de Hipona já se organizassem em comunidades independentes. Apenas em 1912 é que os agostinianos receberam da Igreja o título de Ordem Religiosa autônoma. Hoje, a OSA está presente em cerca de 45 países. A ordem chegou ao Brasil em 1899. 

A regra número 1 da OSA é “Viver unânimes tendo um só coração e uma só alma para Deus, porque a concórdia é a primeira finalidade da nossa vida em comunidade”.  

Os agostinianos são conhecidos pela ação social e pelas iniciativas educacionais. O Colégio Santo Agostinho, um dos mais tradicionais do Rio de Janeiro, é administrado pela Ordem dos Agostinianos Recoletos, que tem 1.200 religiosos.  

Outra entidade mantida pelos discípulos de Santo Agostinho é a Universidade Villanova, nos arredores da Filadélfia, nos Estados Unidos. Foi lá que o novo papa estudou Matemática entre 1973 e 1977, logo antes de entrar para o seminário. 

noticia por : Gazeta do Povo

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