Um incêndio de grandes proporções atingiu o Templo Clayborn, em Memphis, no estado do Tennessee (EUA), na madrugada de segunda-feira (6), provocando danos severos à estrutura do edifício, que desempenhou um papel central na última campanha do pastor Martin Luther King Jr. em 1968.

Segundo a chefe dos bombeiros de Memphis, Gina Sweat, “o interior foi uma perda total, mas ainda temos alguma esperança de que parte da fachada possa ser preservada”. Ela explicou, em coletiva de imprensa, que engenheiros estruturais serão acionados para avaliar as condições do que restou: “Engenheiros estruturais terão que entrar e analisar o que sobrou para garantir que possamos deixar como está”, afirmou.

Equipes do Corpo de Bombeiros, da Polícia local e do Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos dos Estados Unidos iniciaram uma investigação conjunta para apurar a causa do incêndio. Durante toda a manhã, os bombeiros continuaram os trabalhos de contenção dos focos.

A chefe do Corpo de Bombeiros destacou ainda a importância do templo para a população: “Não é apenas uma estrutura. É sagrado e significativo para toda a nossa comunidade”, disse ela, de acordo com a CBS News.

Vínculo com Martin Luther King Jr.

O Templo Clayborn foi um dos principais pontos de organização da greve dos trabalhadores do serviço de saneamento de Memphis, em 1968. À época, cerca de 1.300 funcionários — a maioria negros — cruzaram os braços em protesto contra más condições de trabalho e remuneração inadequada. A mobilização foi motivada pela morte de dois trabalhadores, Echol Cole, de 36 anos, e Robert Walker, de 30, esmagados por um compactador de lixo em 1º de fevereiro daquele ano. Ambos eram contratados e, por isso, não tinham direito a indenizações trabalhistas ou seguros.

Martin Luther King Jr. viajou a Memphis para apoiar o movimento. Durante a greve, o Templo Clayborn abrigou reuniões noturnas, produziu os cartazes com os dizeres “I Am a Man” (“Eu sou um homem”) e foi ponto de partida para manifestações até a Prefeitura. Após o assassinato de King, o movimento conquistou um aumento salarial para os grevistas, mas a relevância da igreja entrou em declínio.
Reações e esforços de reconstrução

O filho do pastor, Martin Luther King III, declarou nas redes sociais que ele e sua esposa estão “profundamente tristes com o incêndio devastador”. Segundo ele, “as chamas que consumiram o Templo Clayborn não podem apagar seu legado como solo sagrado. Honramos sua história e estamos comprometidos em apoiar os esforços para reconstruir esta pedra angular do movimento pelos direitos civis”.

O prefeito de Memphis, Paul Young, também lamentou a perda em nota oficial: “Esta manhã, acordamos com notícias de cortar o coração: um incêndio devastador atingiu um dos maiores tesouros da nossa cidade, o Templo Clayborn”. Ele acrescentou: “Clayborn é mais do que um edifício histórico. É o coração pulsante do movimento pelos direitos civis, um símbolo de luta, esperança e triunfo que pertence não apenas a Memphis, mas ao mundo”.

Histórico do templo

Construído em 1892 como Segunda Igreja Presbiteriana de Memphis, o prédio inicialmente abrigava uma congregação branca. Em 1949, foi adquirido por membros da Igreja Metodista Episcopal Africana e passou a se chamar Templo Clayborn. O local foi tombado como Patrimônio Histórico Nacional em 1979.

Em 2017, a igreja recebeu um aporte de 400 mil dólares do Serviço Nacional de Parques dos EUA para restauração. Em 2022, um projeto de revitalização avaliado em 25 milhões de dólares foi lançado, com conclusão prevista para 2026. O plano inclui a preservação da arquitetura neorromânica original, a criação de um museu, ações culturais e programas comunitários.

Anasa Troutman, diretora executiva do Templo Histórico Clayborn e responsável pela restauração, afirmou: “Para todos que amaram, apoiaram e oraram pelo Templo Histórico Clayborn, continuamos comprometidos com sua restauração”.

O arquiteto Jimmie Tucker, envolvido no projeto há anos, passou a manhã de segunda-feira elaborando um plano para estabilizar a estrutura remanescente. “Como nativo de Memphis, este projeto é pessoal. Tem muito significado. A cidade ajudará a garantir que este lugar sagrado ressurja”, declarou.