Desde o domingo de Páscoa, em 20 de abril de 2025, vídeos com declarações de Abdullah Hashem Aba Al-Sadiq, conhecido como Abdullah Hashem, dizendo ser o novo papa, passaram a circular com força nas redes sociais.
Em suas falas, ele se apresenta como figura messiânica destinada a unir muçulmanos, cristãos e judeus em uma única fé. O conteúdo ganhou notoriedade após a publicação de um vídeo em que Hashem se identifica como o Mahdi — figura escatológica esperada no islã, uma espécie de messias islâmico — e afirma ser também o legítimo sucessor de Simão Pedro, ou seja, o verdadeiro novo papa.
No dia seguinte à publicação deste discurso, o Vaticano anunciou a morte do papa Francisco, o que aumentou as especulações em torno de Hashem, de acordo com informações do Israel 365 News.
Em diferentes gravações publicadas em seu canal no YouTube, Abdullah Hashem declara: “Sou o sucessor de Maomé e de Ahmed, bem como de Pedro e de Jesus Cristo. Sou o verdadeiro e legítimo papa”.
O canal, que possui aproximadamente 70 mil inscritos, divulga também mensagens dirigidas ao público cristão, nas quais Hashem afirma portar uma “mensagem divina para a comunidade cristã global”. Em uma das publicações, o movimento liderado por ele afirma: “A vacância do trono papal não é um acaso, mas um sinal divino: chegou a hora de o herdeiro legítimo assumir sua posição”.
Argumentos
Hashem sustenta que sua identidade é respaldada por sua ancestralidade — sendo, segundo ele, “filho do Oriente e do Ocidente”. Nascido em 1983 no estado de Indiana, nos Estados Unidos, é filho de um egípcio muçulmano e de uma norte-americana com raízes judaicas e cristãs. Em vídeos gravados em templos de culto, ele se identifica como fundador da AROPL — Religião Ahmadi da Paz e da Luz, sigla em inglês para Ahmadi Religion of Peace and Light.
A AROPL foi fundada no Iraque no fim da década de 1990 e, segundo o grupo, está atualmente presente em 40 países. A comunidade afirma reunir milhares de seguidores. Em 2018, a base do movimento localizava-se na Suécia. Desde 2021, está sediada no Reino Unido. O grupo declara como missão central o estabelecimento de um “Estado Justo Divino, governado por um rei nomeado por Deus”, sendo contrário à democracia e favorável a um regime teocrático.
As afirmações de Hashem provocaram reações entre líderes cristãos. Teólogos e pastores, em análises publicadas online, classificaram-no como uma possível figura do anticristo, mencionando passagens bíblicas como Mateus 24:4-5, que alertam sobre falsos cristos. Outros líderes religiosos minimizaram o alcance de suas declarações, citando seu número relativamente reduzido de seguidores em comparação com influenciadores digitais populares.
Em resposta, Hashem afirma ser um mensageiro enviado por Jesus para liderar os cristãos. Também critica o cristianismo tradicional, alegando que teria deturpado o monoteísmo original de Jesus, conforme expressado na oração judaica Shemá (Deuteronômio 6:4).
Ele atribui a criação da doutrina da Trindade ao imperador Constantino e ao Concílio de Niceia. Em um podcast publicado após a repercussão de seu vídeo principal, Hashem disse que há cristãos que acolhem sua mensagem e classificou as críticas de “campanha de desinformação promovida por fundamentalistas”.
Segundo o grupo, dois acontecimentos ocorridos após 20 de abril seriam provas de sua legitimidade: a morte do papa Francisco e a ampla repercussão global de seus vídeos, considerados sinais do cumprimento de profecias.
Em seu site oficial, o movimento afirma que Hashem cumpre três “critérios divinos” que o identificariam como legítimo líder religioso: ser mencionado em testamentos proféticos, demonstrar conhecimento extraordinário e defender a supremacia divina sobre o domínio humano. A AROPL também declara que ele já cumpriu dez profecias islâmicas, incluindo a morte do rei Abdullah da Arábia Saudita, ocorrida em 2015, e interpreta simbolicamente a expressão “sol nascendo no Ocidente” como uma previsão do governo de Hashem sobre o mundo cristão.
A organização afirma ainda que ele trará uma “nova aliança” entre Deus e a humanidade, unindo as maiores religiões: “Historicamente, Deus estabeleceu seis alianças, conhecidas por aqueles familiarizados com a Torá e a Bíblia — mas todas foram rompidas. A sexta foi com o profeta Maomé. A sétima será restaurada pelo salvador da humanidade”, afirma o site da AROPL. De maneira distinta ao islamismo tradicional, esta nova aliança, segundo o grupo, incluiria a comunidade LGBTQ+.
‘Novo papa’
Desde abril de 2025, seguidores do movimento divulgaram vídeos nos quais aparecem diante de igrejas em diversos países, incluindo Colômbia, México, Argentina, Equador, Estados Unidos, Canadá, Suíça, França, Itália, Alemanha, Vaticano, Reino Unido, Espanha, Croácia, Sérvia, Filipinas, Tailândia, Austrália, Senegal e Bangladesh. Nessas ações públicas, afirmam que Abdullah Hashem foi escolhido por Deus para liderar a humanidade como o “verdadeiro” novo papa.
A figura do Mahdi ocupa posição central na escatologia islâmica. Embora o Alcorão não o mencione diretamente, há um amplo conjunto de tradições sobre um redentor que surgirá nos tempos finais. Também se destaca, entre os muçulmanos, a crença no retorno de Jesus (Issa), considerado o maior profeta anterior a Maomé. No islã, Jesus não é visto como filho de Deus nem como divino, e crê-se que não morreu na cruz, mas foi levado aos céus, onde aguarda o momento de retornar à Terra.
De acordo com essas tradições, o Mahdi surgirá ao lado de Jesus, que confirmará sua missão e combaterá o Masih ad-Dajjal — o falso messias ou anticristo. Em seguida, Jesus morrerá de forma natural e será enterrado ao lado de Maomé, em Medina, sob a Cúpula Verde. Espera-se que, após a chegada do Mahdi, toda a humanidade se converta ao islã.
A tradição xiita acrescenta que, antes da vinda do Mahdi, dois terços da humanidade morrerão — um terço por pragas e outro por guerras — e que haverá um conflito de grandes proporções na Síria e no Iraque, com destruição completa dos dois países. Os xiitas acreditam que o Mahdi já nasceu, mas encontra-se oculto até o momento de sua manifestação. Já para os sunitas, ele ainda está por vir. Em ambos os casos, há o entendimento de que sua chegada trará justiça ao mundo.
A escatologia xiita também inclui a ressurreição de líderes religiosos, como os imãs, e a conquista de Constantinopla, cidade de importância histórica para o cristianismo e o islã. Ao longo dos séculos, diversos líderes muçulmanos já reivindicaram ser o Mahdi, mas sua figura permanece aguardada como cumprimento futuro de profecias religiosas.
FONTE : Gospel Mais