25 de abril de 2025 - 23:06

Primeiros cristãos em Israel transformaram casas em igrejas, comprova arqueologia

Uma nova pesquisa conduzida por arqueólogos israelenses revela que, durante a Antiguidade Tardia (séculos IV a VII d.C.), comunidades cristãs espalhadas pela terra de Israel e pelo Oriente Médio construíram um número expressivo de igrejas em propriedades privadas, em contraste com a prática judaica da época, que concentrava os recursos da comunidade na construção de sinagogas centrais.

O estudo, publicado recentemente na revista científica Levant e divulgado pelo The Times of Israel, foi coordenado pelo professor Jacob Ashkenazi, do Kinneret College, instituição localizada às margens do Mar da Galileia. Segundo Ashkenazi, esse padrão de edificação de igrejas revela um comportamento distinto entre cristãos e judeus quanto à forma de expressar e compartilhar a fé.

“Somente na província palestina romana, mais de 700 igrejas foram encontradas em escavações arqueológicas, sem mencionar as igrejas registradas em fontes históricas. É realmente inacreditável”, declarou o professor.

De acordo com o relatório, muitas dessas igrejas eram erguidas dentro de residências de famílias abastadas, com acesso tanto para a área privada quanto para a via pública. Esse modelo contrasta com o funcionamento das comunidades judaicas, que mantinham apenas uma sinagoga por vila, geralmente decorada com mosaicos e utilizada como centro comunitário e local de leitura da Torá.

Ashkenazi explicou que, durante o domínio greco-romano, era comum que membros da elite investissem em obras públicas, como teatros e banhos, visando prestígio social e cumprimento de dever cívico. Com a expansão do cristianismo, muitos passaram a canalizar esses investimentos para a construção de igrejas.

“Eles [os ricos] financiavam a construção de casas de banho, teatros e anfiteatros, e patrocinavam espetáculos e festivais públicos. Com o avanço do cristianismo, esse fenômeno sofreu uma leve transformação, à medida que os ricos começaram a se converter a financiar a construção de igrejas”, disse Ashkenazi.

A pesquisa foi baseada em anos de escavações em locais como Israel, Jordânia, Líbano e Arábia Saudita. Entre os sítios escavados diretamente pelo próprio Ashkenazi e pelo professor Motti Aviam, estão sete igrejas na Galileia Ocidental. Segundo eles, a vila de Hippos, com cerca de 2.000 habitantes, chegou a abrigar oito igrejas, sendo seis delas em casas particulares. Outro exemplo mencionado é Umm al-Jimal, no norte da Jordânia, onde foram identificadas pelo menos 15 igrejas para uma população estimada de 3.000 habitantes.

Inicialmente, os estudiosos interpretavam esse fenômeno como consequência de disputas teológicas que marcaram o cristianismo primitivo, como os concílios de Niceia (325), Constantinopla (381) e Éfeso (431). Contudo, Ashkenazi afirmou que os dados arqueológicos não sustentam essa explicação.

“Concluímos que disputas religiosas não são suficientes para justificar o número de igrejas e que a explicação era muito mais simples. Numa época em que todos eram crentes, os indivíduos ricos buscavam tanto dar quanto receber, construindo igrejas que servissem à comunidade”, afirmou.

As inscrições encontradas nas ruínas também oferecem detalhes sobre os patronos das construções. Em uma pequena igreja em Horvat Hesheq, entre Carmiel e Maalot, foi identificada uma dedicatória feita por um diácono chamado Demétrio, que mencionava diversos membros de sua família, como avós, pais, irmãs e filhas.

As igrejas centrais, geralmente maiores, traziam inscrições com os nomes dos bispos e registros cronológicos de suas construções. Em contrapartida, muitas igrejas domésticas apresentavam elementos de religiosidade mais personalizada, como menções a santos específicos, algo raro nas igrejas públicas.

“Vemos que o culto a santos era uma exclusividade de algumas famílias, não de toda comunidade local”, explicou Ashkenazi. “Por exemplo, em toda a província romana da Palestina, apenas três igrejas tinham menções ao nome São Pedro, uma figura universal”.

Quanto às sinagogas, o pesquisador destacou que elas eram mantidas como espaços públicos, voltados para a comunidade inteira, e que a existência de apenas uma por aldeia reforça sua centralidade e função coletiva.

“As sinagogas tinham um propósito diferente das igrejas e, portanto, precisavam ser um lugar único, onde toda a comunidade se reunia”, afirmou.

A pesquisa oferece uma nova perspectiva sobre a dinâmica religiosa e social das populações cristãs e judaicas nos primeiros séculos da era cristã, apontando que a construção de igrejas não se restringia a fenômenos doutrinários, mas refletia práticas sociais enraizadas na cultura da época.

FONTE : Gospel Mais

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