A Turquia permanece como um país com grande necessidade de presença missionária. No entanto, relatos recentes apontam para um movimento sistemático de retirada de cristãos estrangeiros do país, orquestrado de maneira ardilosa pelo governo.
A afirmação é de Bruce Allen, representante da organização Forgotten Missionaries International (FMI), que acompanha de perto a situação.
Segundo Allen, o processo não se apresenta por meios diretos como prisões ou deportações formais: “É um pouco mais sutil. É algo como: ‘Não vamos renovar seu visto’. Então não parece que você está sendo expulso. É só que você não vai conseguir uma renovação para voltar”, disse ele.
Essa abordagem, de acordo com Allen, cria um cenário de insegurança jurídica para missionários e suas famílias. Em muitos casos, os afetados só descobrem que não poderão retornar ao país quando tentam sair temporariamente para viagens ou férias. “Você não sabe até chegar ao aeroporto se eles vão dizer: ‘E nunca mais volte’”, relatou uma cristã local em conversa com Allen.
A consequência direta dessa política tem sido a hesitação de algumas famílias em deixar o país, mesmo que brevemente, por receio de não conseguirem voltar. Em situações extremas, isso tem levado a ações policiais: “Essas são as pessoas que, duas semanas depois, têm a polícia na porta dizendo: ‘Vocês estão presos’”, afirmou Allen.
Crescimento da igreja local
Apesar das dificuldades, líderes cristãos turcos têm visto oportunidade em meio à crise, já que o país ainda tem 57 grupos étnicos ainda não alcançados pelo Evangelho. Para Allen, há uma nova ênfase no fortalecimento da igreja local, em resposta ao que ele considera como a segunda parte da Grande Comissão bíblica:
“‘E ensine-os a fazer tudo o que eu disse para vocês fazerem’. E muitas vezes dizemos: ‘Temos essa mão de obra, temos os cordões da bolsa, somos donos do ministério; e não capacitamos os crentes locais’”, declarou.
Nesse cenário, fundadores de igrejas indígenas vêm ganhando espaço e relevância, apresentando-se como alternativas viáveis e bem recebidas pelas comunidades. Allen destaca que ministérios internacionais ainda podem atuar de forma complementar, apoiando os esforços locais com treinamento, mobilização e incentivo.
Desafios contínuos
Além das restrições enfrentadas por estrangeiros, os próprios cristãos turcos convivem com obstáculos diários. Embora a Turquia tenha uma rica tradição cristã, remontando às sete igrejas do livro de Apocalipse, o contexto atual é mais restritivo.
“O governo aprecia o turismo, mas a realidade é que não é possível construir uma igreja cristã hoje no país”, disse Allen, conforme informações do Mission Network News.
Muitos fiéis têm dificuldade para encontrar espaços adequados de reunião, o que compromete o funcionamento das comunidades. A situação gera preocupação entre os líderes, que buscam alternativas seguras e discretas para manter o culto e o discipulado.
Contexto histórico e atual
A presença cristã na região que hoje compreende a Turquia remonta aos primeiros séculos da era cristã. Cidades como Éfeso, Esmirna e Pérgamo, mencionadas nas Escrituras, estão localizadas no território turco.
No entanto, o número de cristãos no país representa hoje uma parcela ínfima da população, estimada em mais de 85 milhões de pessoas, majoritariamente muçulmanas.
Desde a tentativa de golpe militar em 2016, o governo do presidente Recep Tayyip Erdoğan tem reforçado medidas de controle sobre entidades religiosas e estrangeiros. Diversos missionários e obreiros cristãos foram impedidos de retornar à Turquia desde então, muitos deles classificados como ameaças à segurança nacional, sem apresentação de provas formais.
Apoio e orações
Organizações como a FMI pedem apoio em oração pelos expatriados e pelas igrejas locais que continuam atuando em meio à incerteza. Os pedidos incluem:
-
Que os fiéis encontrem lugares seguros para se reunir;
-
Que os ministérios atuantes no país fortaleçam e equipem as igrejas locais;
-
Que novos pastores e plantadores de igrejas sejam formados e acompanhados;
-
E que os corações nas comunidades turcas estejam abertos à mensagem do Evangelho.
Bruce Allen conclui que, apesar das dificuldades, há sinais de esperança e amadurecimento espiritual entre os cristãos turcos: “Eles veem essa situação como uma oportunidade de crescimento e liderança. É a igreja se tornando verdadeiramente local”.
FONTE : Gospel Mais