Uma nova série de ataques armados contra comunidades cristãs no estado de Plateau, Nigéria, deixou ao menos 70 mortos desde o final de março, segundo relatos de moradores e líderes religiosos locais.
Os ataques, atribuídos a militantes de etnia fulani, atingiram pelo menos sete vilarejos nas áreas de governo local (LGA) de Bokkos e Bassa, resultando em assassinatos, destruição de propriedades e deslocamento forçado de cerca de seis mil pessoas, num momento em que começa a estação chuvosa no país.
De acordo com líderes cristãos da região, vítimas foram baleadas, queimadas vivas ou atacadas com armas brancas: “Cerca de sete a oito comunidades foram atacadas. Os ataques nos afetaram espiritualmente e socialmente. Precisamos de orações por provisão para os deslocados internos e os que acolheram nossos irmãos desabrigados em suas casas”, declarou o reverendo Arum, parceiro da Missão Portas Abertas na Nigéria.
Ayuba Matawal, presidente do Comitê de Bem-estar das Pessoas Deslocadas Internas de Bokkos, afirmou que “pessoas perderam suas vidas, seis vítimas estão desaparecidas e muitas outras sofreram vários graus de ferimentos. Mais de 200 casas e propriedades no valor de milhões foram queimadas, deixando mais de três mil deslocados”.
Cronologia dos ataques:
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24 de março – Dundu (Bassa): três agricultores cristãos foram emboscados e mortos enquanto trabalhavam nas plantações.
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27 de março – Ruwi (Bokkos): 11 cristãos foram mortos durante um velório, entre eles uma mulher grávida, o marido e uma criança de dez anos.
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2 de abril – Tamiso (Bokkos): cinco mulheres foram assassinadas durante um encontro cristão na igreja COCIN.
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2 de abril – Dafo e Hurti: dois mortos em Dafo e cerca de 40 em Hurti.
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6 de abril – Pyakmula (Bokkos): quatro mortos.
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7 de abril – Hwrra (Bassa): três mortos.
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8 de abril – Bassa: ataques simultâneos em três locais deixaram pelo menos dois mortos.
Segundo Farmasum Fuddang, advogado e presidente do Conselho de Desenvolvimento Cultural de Bokkos (BCDC), “trinta e uma pessoas foram enterradas em uma vala comum na quinta-feira, com outras cinco vítimas menores de idade queimadas até virarem cinzas na vila de Hurti”.
Reações e contexto
As autoridades do estado de Plateau condenaram os episódios de violência e anunciaram medidas de segurança para conter os ataques nas comunidades afetadas. A LGA de Bokkos já vivia sob tensão desde maio de 2023, quando ocorreram ataques similares. Em 24 de dezembro de 2023, cerca de 200 cristãos foram mortos em um atentado considerado o mais letal do ano na região.
Titus Ayuba Alams, conselheiro especial do governador de Plateau, relatou que a violência afeta diretamente o sustento das famílias locais.
“As pessoas começaram a limpar suas fazendas para cultivar. Mesmo na comunidade de Hurti, quando fomos lá, você podia ver claramente que as pessoas estavam preparadas para plantar. Vimos seus produtos como pimenta e batatas estragando porque as pessoas fugiram e deixaram tudo”, afirmou.
A estação chuvosa, que vai de abril a outubro, é essencial para os agricultores de subsistência da região. Com os ataques, as plantações foram abandonadas, deixando famílias sem comida e sem fonte de renda.
“Temos cerca de quatro campos de deslocados internos: um em Bokkos, um em Gombe e dois em Hurti. Em Bokkos, há mais de dois mil deslocados internos. Em Hurti, temos mais de quatro mil”, informou o reverendo Arum, somando seis mil pessoas obrigadas a fugir pela vida.
Impactos sociais e humanitários
A Portas Abertas e outras organizações cristãs relatam que a maioria destes seis mil vítimas são agricultores cristãos e suas famílias, que agora enfrentam insegurança alimentar e ausência de meios de subsistência. Muitas crianças deixaram de frequentar a escola e cultos religiosos foram suspensos por temor de novos ataques.
“Nossa gente está vivendo com medo. As crianças não vão mais à escola, nem mesmo podem adorar nas igrejas, porque estão fugindo para salvar suas vidas”, acrescentou o conselheiro Alams.
Mobilização internacional e campanha de oração
Em resposta à escalada da violência, a campanha Domingo da Igreja Perseguida (DIP) 2025, marcada para o dia 15 de junho, promete unir mais de 16 mil igrejas em oração pelos cristãos perseguidos na Nigéria e em outros países.
Entre os pedidos de oração divulgados por líderes cristãos estão:
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Consolação espiritual e cura emocional para os afetados pelos ataques.
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Sabedoria e coragem para os líderes cristãos locais.
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Transformação dos agressores e fim da violência.
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Provisão de alimentos, abrigo e segurança para os deslocados.
Situação em andamento
Até o momento, não há confirmação de prisões relacionadas aos ataques mais recentes. O governo nigeriano enfrenta críticas internas e internacionais pela lentidão na resposta aos episódios de violência étnico-religiosa no cinturão central do país.
Em nota, a Portas Abertas afirma que segue monitorando a situação em Plateau e reforça o apelo por ajuda emergencial para os deslocados.
FONTE : Gospel Mais