O crescimento da Igreja no Sul Global, especialmente na África, tem gerado desafios significativos para a educação teológica, segundo o Dr. David Tarus, Diretor Executivo da Associação de Educação Teológica Cristã na África (ACTEA).
Em entrevista, ele destacou que as instituições de treinamento teológico estão fornecendo menos de 10% dos líderes necessários para atender às crescentes congregações.
Defasagem na Formação Teológica
Tarus afirmou que “milhares vêm a Cristo na África todos os dias”, mas a capacidade das instituições teológicas não acompanha essa expansão. A maioria das escolas bíblicas admite entre 130 e 150 alunos por ano, com algumas exceções, como o Seminário Teológico Batista da Nigéria, que conta com mais de 2 mil alunos.
Essa limitação levou à ascensão de modelos alternativos de ensino, incluindo programas informais baseados na igreja e cursos de curta duração. Tarus citou seu próprio pai como exemplo: “Ele está cuidando de duas igrejas na minha vila. Sua educação mais alta é a sétima série, mas conseguiu adquirir formação teológica por meio de programas não formais e modulares”.
Resistência à Educação Formal
Embora haja uma crescente valorização da educação teológica, Tarus reconhece que o financiamento das instituições nem sempre é prioridade para as igrejas, que frequentemente destinam recursos para infraestrutura.
Além disso, algumas denominações pentecostais e carismáticas resistem à formalização do treinamento pastoral, argumentando que a liderança espiritual não pode ser ensinada em estruturas acadêmicas. No entanto, ele observa que essa percepção está mudando, com igrejas estabelecendo suas próprias escolas bíblicas.
A regulamentação governamental também tem impactado a formação teológica. Em Ruanda, uma lei de 2017 exigiu que líderes religiosos adquirissem treinamento teológico formal.
Como resultado, em 2024, o governo fechou 5.600 igrejas por não cumprirem os requisitos. Tarus afirmou que essa exigência impulsionou o credenciamento de instituições teológicas no país. Já no Quênia, uma tentativa de regulamentação encontrou forte oposição das igrejas, levando o governo a recuar na proposta.
Teologia Contextualizada
Outro ponto destacado na entrevista foi a necessidade de ampliar a influência da teologia do Sul Global no cenário acadêmico. Tarus citou o acadêmico queniano John Beatty, que questionou: “Você nos leu? Você leu a maior parte da teologia mundial?”.
Segundo Tarus, há uma percepção equivocada de que a teologia ocidental é a única válida, enquanto a teologia africana é vista apenas como “contextual”.
Para o futuro da educação teológica na África, Tarus defende um modelo mais integrado à realidade da igreja local, com currículos relevantes e mecanismos de garantia de qualidade. Ele observou que sua própria formação teológica carecia de treinamento prático: “Fiz quatro anos de bacharelado em teologia com foco em estudos pastorais, mas eles falharam em preparar para o ministério prático”.
Diante disso, ele propõe que a formação pastoral inclua disciplinas como empreendedorismo, desenvolvimento comunitário e atuação profética em questões sociais. Além disso, sugere investimentos em bibliotecas teológicas e modelos sustentáveis para garantir a longevidade das instituições de ensino.
Por fim, Tarus destacou a necessidade de capacitação dos líderes dessas instituições, afirmando que “um dos elos mais fracos na educação teológica é que os líderes executivos não foram treinados para os cargos que ocupam agora”.
Na declaração ao Christian Daily International, Tarus entende que a solução seria investir na formação de lideranças e no fortalecimento das instituições teológicas para que possam servir à Igreja de maneira mais eficaz.
FONTE : Gospel Mais