O ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse, em entrevista ao Flow Podcast nesta sexta-feira (7), que torce para a política econômica do presidente argentino, Javier Milei, dar certo.
“Se a Argentina fosse na Ásia eu estaria torcendo para dar certo, mas sendo nosso vizinho eu estou torcendo mais para dar [certo]”, afirmou.
Sob a promessa do ajuste fiscal mais rígido da história, o governo Milei, durante o primeiro ano de governo, reduziu em 45,6% as despesas com programas sociais, em 76,8% as despesas de capital e em 76% as transferências a províncias. O objetivo era controlar a hiperinflação que assolava a economia local.
De acordo com Haddad, o sucesso da Argentina é fundamental para o Brasil e para o Mercosul. “Fortalece a região, é ruim ter um vizinho que não está caminhando bem.”
A crise na Argentina prejudica o comércio bilateral com o Brasil, lembrou o ministro. Apesar das frequentes alfinetadas de Milei no presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o país vizinho voltou a comprar mais produtos brasileiros, com uma alta de 58% nas importações em janeiro, como a Folha mostrou.
No entanto, Haddad classifica a estratégia de Milei como um experimento. “Eu vejo riscos grandes também de não dar [certo], sobretudo no fronte externo. Ele está com uma moeda valorizadíssima.”
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Essa situação levou a inflação argentina ao patamar mais baixo nos últimos cinco anos e garantiu ao país o primeiro superávit desde 2010, mas consolidou uma recessão, marcada por um salto de 11% na pobreza no primeiro semestre do ano passado —o índice chegou a 52,9% da população no período.
Segundo o ministro, os efeitos colaterais da moeda supervalorizada podem ter solução com ajuda externa. “Não sei quanto o FMI está disposto a botar mais dinheiro ali, não sei quanto que o governo dos Estados Unidos vai colocar essa agenda para os organismos internacionais ajudar a Argentina por razões políticas e geopolíticas.”
“Faz muita diferença se os Estados Unidos quiserem que um país dê certo”, emendou.
Para Haddad, o desmantelo da política social argentina tem reflexos na vida da população. “Gostaria que desse certo sem o custo social que está sendo imposto à população? Sim. Seria possível? Bom, aí eu não estou lá no manche para dizer”, disse Haddad.
O chefe da Fazenda avaliou que, hoje, Brasil e Argentina são países em situações muito diferentes. “O Brasil não tem dívida externa desde o presidente Lula, tem reservas cambiais desde o presidente Lula.”
Por isso, quando teve sua política fiscal comparada a de Milei, o ministro disse que o nível do ajuste necessário em cada nação também é diferente. “Eu acredito que a gente está fazendo um trabalho. Quando você perguntou se queria fazer mais rápido, eu falei que queria, e dava para ter feito mais rápido”, disse ao entrevistador Igor 3k.
“Bom, constrangimentos de ordem política me deram 70 do cem. Ok, vou buscar os outros 30. Vamos continuar construindo”, acrescentou.
noticia por : UOL