22 de fevereiro de 2025 - 6:36

Juiz suspende julgamento do prefeito de Nova York após pedido de governo Trump

O juiz distrital dos Estados Unidos Dale Ho, em Manhattan, decidiu nesta sexta-feira (21) que não irá atender imediatamente o pedido feito pelo Departamento de Justiça para arquivar acusações contra o prefeito de Nova York, Eric Adams, e nomeou um advogado para o aconselhar sobre o caso.

Na prática, o julgamento de Adams por essas acusações, anteriormente previsto para ocorrer no dia 21 de abril, agora fica suspenso e sem data definida.

Na decisão, o juiz afirma que, como Adams e o Departamento de Justiça têm posições alinhadas, argumentos contrários ao pedido de arquivamento não foram devidamente explorados.

Ele disse que nomearia o advogado Paul Clement para ajudar a determinar se uma investigação adicional seria necessária antes de tomar uma decisão sobre o arquivamento das acusações.

“A nomeação é apropriada para auxiliar na tomada de decisão do tribunal”, escreveu Ho. “Isso é particularmente relevante à luz da importância pública do caso, que exige uma deliberação cuidadosa.”

Clement, 58, chegou a ser procurador-geral por um breve período durante a presidência de George W. Bush e, desde que retornou à advocacia privada, tem defendido causas conservadoras.

O advogado era um dos cotados pelo presidente Donald Trump, em 2020, para preencher uma das vagas abertas da Suprema Corte americana.

O gabinete do prefeito, o advogado de defesa de Adams, Alex Spiro, e o Departamento de Justiça não responderam a pedidos de comentário da agência Reuters.

O prefeito democrata tem se aproximado de Trump, republicano, e criticou a gestão anterior de Joe Biden, quando as acusações contra ele foram apresentadas.

O Departamento de Justiça, sob ordens do procurador-geral adjunto interino Emil Bove, nomeado político e ex-advogado pessoal de Trump, pediu na semana passada o arquivamento das acusações ao juiz Ho.

Funcionários do departamento renunciaram em protesto contra o que consideram ser interferência política de Trump —antes de buscar a Justiça, Bove havia ordenado que procuradores do órgão retirassem as acusações.

Bove argumentou que o arquivamento é necessário para que Adams se concentre em reprimir a imigração ilegal, prioridade do governo Trump.

A controvérsia gerou crise política na cidade mais populosa dos EUA. Democratas afirmam que arquivar as acusações torna Adams submisso à gestão republicana federal.

Adams, 64, foi acusado em setembro passado por promotores federais, ainda durante o governo de Joe Biden, de aceitar subornos e doações de campanha de cidadãos turcos que buscavam influenciá-lo. O prefeito, que concorre à reeleição este ano, declarou-se inocente.

Especialistas dizem que o juiz Ho não tem autoridade para obrigar o Departamento de Justiça a levar o caso em frente, caso indefira o pedido de arquivamento. A Common Cause, uma organização apartidária que promove governança responsável, em um documento enviado a Ho na segunda-feira (17), instou o juiz a considerar a nomeação de um promotor especial para dar continuidade ao caso.

Anteriormente, Bove havia ordenado à então procuradora dos EUA em Manhattan, Danielle Sassoon, que arquivasse o processo contra Adams, sob o mesmo argumento de que o caso prejudicava a candidatura do prefeito e inibia a capacidade dele de trabalhar com autoridades federais em pautas consideradas prioritárias pela Casa Branca, como a segurança pública e a migração.

Sassoon, considerada uma estrela em ascensão nos círculos jurídicos conservadores, renunciou em vez de cumprir a ordem de Bove. Outros seis promotores a seguiram. Bove afirma que a decisão de retirar as acusações não questiona os méritos do caso.

Em uma carta enviada na semana passada à procuradora-geral Pam Bondi opondo-se à diretiva de Bove, Sassoon disse que os advogados de Adams propuseram um acordo segundo o qual o prefeito ajudaria a aplicar as políticas de imigração linha-dura de Trump apenas se as acusações contra ele fossem arquivadas.

Os advogados de Adams negaram que ele tenha trocado apoio às políticas de Trump por assistência da Casa Branca no processo em que acusado.

A agitação no Departamento de Justiça levou muitos políticos democratas de Nova York a pedir a renúncia de Adams.

Quatro membros do seu gabinete disseram na segunda-feira que planejam renunciar nas próximas semanas. A governadora do estado de Nova York, Kathy Hochul, também democrata e com o poder de destituir o prefeito, realizou reuniões com figuras políticas em Manhattan na terça-feira (18) sobre o futuro de Adams.

Ela afirmou que o anúncio de que as autoridades do governo renunciariam levantou “questionamentos sérios sobre o futuro de longo prazo da gestão municipal”. Na quinta-feira (20), Hochul disse que não removeria Adams do cargo, mas propôs novas formas de supervisão do gabinete do prefeito.

Adams já afirmou, sem apresentar provas, que o Departamento de Justiça sob Biden apresentou as acusações como retaliação por suas críticas à política de imigração do ex-presidente democrata. Adams se aproximou de Trump nos últimos meses, visitando-o na Flórida em janeiro e mais tarde participando de sua posse.

noticia por : UOL

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