– É mesmo o que parece pela internet? O mundo está igual ao que era antes da segunda guerra?
As perguntas do meu filho de 16 anos, no café da manhã, foram seguidas de afirmações do irmão de 14 anos.
– Eu vejo muita coisa de esquerda no meu Instagram porque procuro, então vejo coisas de esquerda e de direita. Pra quem não procura, só aparece coisa de direita. O Trump ameaça fazer 15 coisas terríveis, faz só uma, mas a gente fala tanto das 15 que ele parece ter um poder ainda maior do que tem.
Meu filho mais velho está começando o segundo ano do ensino médio e o do meio, o nono do fundamental 2. Depois da primeira semana de aulas, perguntei como estavam as coisas, se estava tudo bem, pensando na escola. Mas o rumo da conversa me mostrou mais uma vez a adolescência sequestrada de uma geração que não se angustia apenas com o cotidiano próximo ou a incerteza do futuro. Nossas crianças e adolescentes, mesmo as que têm comida na mesa, escola, acesso à saúde estão preocupadas com o presente coletivo, assim como nós estamos.
As mensagens de celular disparadas recentemente pela Defesa Civil de São Paulo alertando para alto risco de alagamentos e enxurradas foram recebidas por meus filhos em seus celulares. Certamente foram recebidas também por crianças cujos celulares estão conectados à rede móvel 4G ou 5G em áreas de risco. Espero que todas tenham sido acolhidas por adultos responsáveis por elas para que não entrassem em pânico e pudessem entender a importância do alerta.
Nos grupos de WhatsApp de que meu filho do meio participa, os adolescentes compartilharam o susto e o medo entre si, além de conversarem durante a tempestade para se acalmarem. A preocupação com os desastres ambientais chega cada vez mais perto, no tempo e no espaço, de todas as crianças.
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Não é novidade que crianças e jovens estão ansiosos, de acordo com indicadores recentes de saúde mental, até mais que pessoas adultas. Crises econômicas, climáticas, usos excessivos de celulares e jogos estão entre os fatores citados por especialistas para explicar a situação. Além da recente proibição do uso de celulares nas escolas, o que mais podemos fazer?
Políticas públicas para adaptar cidades às emergências climáticas e fortalecer a resiliência de grupos vulnerabilizados são fundamentais para que crianças estejam seguras, e então possam se sentir seguras. Descentralizar a geração de energia, desenvolver indicadores de monitoramento para identificar grupos sociais mais impactados pelas medidas de transição energética são duas das muitas recomendações para negociações climáticas que precisam ser prioridades na COP 30.
Mas aqui em casa, os desastres ambientais não são o que mais assusta.
– Antes eu não ouvia as pessoas declararem que são racistas, que odeiam negros. Agora eu ouço.
O que podemos fazer para que as crianças estejam de fato seguras, e assim possam se sentir seguras?
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noticia por : UOL