4 de fevereiro de 2025 - 12:49

Quem ganhou e quem perdeu em negociações para pausar tarifas de Trump


Repórteres da BBC nos EUA, no Canadá e no México avaliam as consequências depois que Trump recebeu promessas de mudanças na fronteira em troca de uma pausa de 30 dias nas tarifas. Donald Trump
Getty Images via BBC
O presidente Donald Trump suspendeu por 30 dias as pesadas tarifas sobre o México e o Canadá após negociações de última hora com os dois vizinhos dos EUA.
Trump pode apontar as concessões nas políticas de fronteiras e a aplicação da leis criminais como uma vitória.
Mas Justin Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, e Claudia Sheinbaum, presidente do México, também podem reivindicar ganhos.
Uma guerra comercial que criaria ondas de choque econômicas pela América do Norte e além está em espera — pelo menos por enquanto.
Mas o que acontece a partir de agora?
A estratégia temerária de Trump parece dar resultado
Por Courtney Subramanian, da BBC News em Washington DC.
O confronto de alto risco do presidente Trump com os parceiros comerciais mais próximos dos Estados Unidos parece ter valido a pena.
México e Canadá concordaram com uma segurança de fronteira mais rigorosa e tomaram medidas para lidar com o tráfico de fentanil.
A estratégia de alavancar a economia dos EUA para forçar concessões de outros países marca uma vitória para a agenda “América em Primeiro Lugar” de Trump.
Isso permite que ele siga adiante com as principais questões domésticas sem que os consumidores americanos sintam a dor das consequências econômicas de uma guerra comercial continental.
O manual de tarifas que ele lançou não é nenhuma novidade.
As tarifas de Trump sobre aço e alumínio durante o primeiro mandato provocaram reações de México, Canadá e União Europeia — mas economistas dizem que aquelas medidas foram mais limitadas.
Desta vez, Trump prometeu tarifas abrangentes sobre produtos do México, do Canadá e da China — este último ainda deve ver um aumento de 10% nas tarifas sobre produtos a partir da meia-noite de terça-feira (4).
Mas ainda não está claro se Trump cumprirá as ameaças ao Canadá e ao México quando o prazo de 30 dias acabar.
Essa incerteza desperta temores de que as empresas possam reduzir sua dependência dos mercados americanos, por meio de adiamentos nos investimentos na construção de novas fábricas ou na contratação de trabalhadores até que o impasse comercial se torne mais claro.
Trudeau alcança uma trégua comercial
Donald Trump e Justin Trudeau
Getty Images via BBC
Por Jessica Murphy, da BBC News em Toronto.
É praticamente possível sentir um suspiro generalizado de alívio dos políticos e líderes empresariais canadenses com a pausa de 30 dias nas tarifas dos EUA.
Enquanto a ameaça de taxações permanece, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau pode reivindicar uma vitória política: uma trégua temporária no que se configurava como uma guerra comercial devastadora.
Os políticos canadenses têm se esforçado para descobrir o que exatamente pode satisfazer Trump — num contexto ainda mais complexo diante da política interna do Canadá, com Trudeau em suas últimas semanas no poder como primeiro-ministro.
As medidas de segurança de fronteira anunciadas na segunda-feira (3) não são todas novas.
Em dezembro, o Canadá anunciou US$ 900 milhões (R$ 5,2 bi na cotação atual) em medidas que incluíam esforços para interromper o comércio de fentanil, novas ferramentas de controle e coordenação aprimorada com a aplicação das leis dos EUA.
Drones de vigilância canadenses e dois helicópteros Black Hawk começaram recentemente a patrulhar a fronteira entre os dois países.
Autoridades citaram esses esforços por semanas para mostrar que estão levando as preocupações de Trump a sério.
Um novo elemento parece ser a nomeação de um “czar do fentanil” e uma estratégia de inteligência multimilionária para combater o crime organizado no país.
Uma questão que permanece é o que isso significa para o futuro do relacionamento Canadá-EUA.
A parceria entre os aliados foi profundamente abalada pelas ameaças econômicas de Trump.
México de Sheinbaum ganha tempo
Claudia Sheinbaum
Getty Images via BBC
Por Will Grant, correspondente da BBC News na Cidade do México.
Durante toda essa crise comercial, a presidente mexicana Claudia Sheinbaum pediu “cabeça fria” e “calma”.
Na sexta-feira (31), ela disse que estava confiante em uma suspensão de última hora das tarifas de 25% sobre produtos mexicanos.
E assim foi, após um telefonema com o presidente Trump.
Ao anunciar o acordo logo depois, ela mal conseguia tirar o sorriso do rosto — e seus apoiadores anunciaram o que veem como uma aula magistral sobre como negociar com Donald Trump.
Sim, ela concordou em enviar tropas da Guarda Nacional para a fronteira, num esforço para se concentrar no contrabando de fentanil.
Mas crucialmente ela garantiu o que queria tirar de Trump.
Além do óbvio — uma pausa nas tarifas — ela também fez Trump “prometer” que os EUA fariam mais para lidar com o tráfico de armas de alta potência dos EUA para o México, para evitar que elas acabassem nas mãos dos pistoleiros de cartéis.
Na negociação, Sheinbaum também comprou outra mercadoria vital: tempo.
Ela agora tem várias semanas para elaborar os pontos acordados naquele telefonema e transformar a suspensão temporária das tarifas em algo permanente.
A expectativa é que agora o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, visite o México em breve para discutir esses assuntos e um grupo conjunto sobre fentanil seja estabelecido com autoridades de saúde e segurança de ambos os países.
Se de fato Sheinbaum conseguir evitar mais hostilidades comerciais, isso será registrado como a primeira vitória significativa de seu novo governo, que começou em outubro do ano passado.
E essa estratégia pode definir o tom para futuras interações com o governo do presidente Trump.
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Fonte: G1

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