31 de janeiro de 2025 - 5:00

Senta que hoje é dia de dar bronca em Jair Bolsonaro

Imagine que louco seria se eu viesse aqui hoje e dissesse que a melhor coisa que poderia acontecer ao ex-presidente Jair Bolsonaro seria a prisão. E ainda por cima uma prisão injusta. Suponho que os leitores mais afoitos, aqueles que só leem o primeiro parágrafo e rejeitam de antemão qualquer crítica a Bolsonaro, soltariam fogo pelas ventas. Não nego: uma das intenções deste texto é mesmo dar essa chacoalhada. Tanto nos leitores quanto no ex-presidente, se alguém fizer com que minhas palavras cheguem a ele.

A outra intenção declarada deste texto é dar vazão a um sentimento coletivo e dizer que as recentes expressões de fragilidade e vitimismo de Bolsonaro, principalmente depois de ter sido impedido de ir à festinha do amigo Donald por capricho e teima do papai Alexandre, fazem mais estrago à imagem do ex-presidente do que as narrativas tolas de joias, importunação de baleia e minuta de golpe.

Isso é coisa de quem venderia a alma ao diabo se o tinhoso lhe prometesse o Céu.

E, já que estou nesta toada, convenhamos: nada prejudica mais a imagem de Bolsonaro e as causas tradicionalmente associadas à direita do que esse pragmatismo nauseabundo – isso, nauseabundo! – de quem move as peças do famigerado xadrez 4D de acordo com as circunstâncias que lhe são pessoalmente favoráveis. E o principal: trocando princípios por esperanças tolas e improváveis de anistia e elegibilidade em 2026. Com todo respeito, isso é coisa de quem venderia a alma ao diabo se o tinhoso lhe prometesse o Céu.

Não adianta. Os tempos são outros e um líder sentimental, apegado à própria imagem e fã dos filhos, para além de qualquer razoabilidade, passa a imagem de “frouxo”. De banana. De oportunista. De alguém incapaz de enfrentar destemida, estratégica e inteligentemente inimigos poderosíssimos no Judiciário, na imprensa e nas entranhas fétidas do Estado. De um líder que prefere ficar na retaguarda, recebendo o carinho de um povo impotente.

Poxa, será que não há nada a se aprender com o sucesso de Donald Trump? É isto o que as pessoas querem: um líder que, depois de quase levar um balaço na cabeça, levante-se com o punho no ar e diga “Lute! Lute! Lute!”.

As pessoas querem um líder que, depois de quase levar um balaço na cabeça, levante-se com o punho no ar e diga “Lute! Lute! Lute!”.

E não um líder que peça pelo amor de Deus seu Alexandre me dá meu passaporte por favorzinho. Ou que chore. Ou que apoie notórios escroques em troca de promessas vazias. Ou que deixe claro, entrevista após entrevista, que morre de medo de ser preso. Já está mais do que na hora de Jair Bolsonaro vestir a carapuça de mito quando for necessário, isto é, agora – e não apenas quando lhe convém.

Vá lá, Bolsonaro. Aproveite que o tempo é propício e os ventos parecem estar mudando. Suba o tom. Ofereça-se em troca da libertação das mães e avós feitas reféns pelo regime PT-STF. Se negarem, e certamente negação, faça greve de fome, grite, acorrente-se à estátua da Justiça em frente ao Supremo. Ou, sei lá, candidate-se ao Prêmio Nobel da Paz. Seja lá o que for, aja. Faça qualquer coisa além de ficar sorrindo e recebendo o carinho de apoiadores em suas viagens por aí.

Se expor-se à prisão for demais, tudo bem, entendo perfeitamente. Também tenho medo de barata e vergonha de fazer as necessidades em público. Mas então que tal começar a botar alguma ordem naquela pocilga que é o Partido Liberal – exatamente como Trump fez com o Partido Republicano? Que tal se impor em vez de ficar de conchavozinho com o PT para eleger Hugo Motta e Davi Alcolumbre? Que tal deixar o pragmatismo covarde de lado e fazer o certo – por mais que a derrota seja inevitável?

Já está mais do que na hora de Jair Bolsonaro vestir a carapuça de mito quando for necessário, isto é, agora – e não apenas quando lhe convém.

E já que acordei com vontade, disposição, ousadia & alegria para dar esta bronca no ex-presidente, que tal se Jair Bolsonaro começasse – de uma vez por todas! – a fomentar novas lideranças de direita? Não o Eduardo nem o Flávio nem o Carlos nem o Jair Renan. Não a Michelle! Falo de alguém que, independentemente do sobrenome, seja capaz de realmente pôr o país no necessário caminho da pacificação e que tenha como horizonte algo além do próprio mandato e da preocupação com a história familiar.

Porque em minhas conversas aqui e ali cheguei à conclusão de que ninguém mais aguenta os Bolsonaro pensando apenas nos Bolsonaro e se esquecendo de que existe algo muito mais importante do que o estabelecimento de uma dinastia política. Existem um país e um povo que anseiam desesperadamente por um projeto de nação baseado não na ideia vaga de um “direitismo puro-sangue” nem em sonhos de vingança contra a esquerda e o STF autoritários.

Existem um país e um povo que anseiam desesperadamente por um projeto de nação baseado num bem maior, de longo prazo, e que seja comum a todos. Todos mesmo.

noticia por : Gazeta do Povo

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