28 de janeiro de 2025 - 19:06

Deportação: ao tentar manter algemas, EUA violaram tratados, Constituição e até súmula do STF, diz ministro


Regras nacionais passaram a valer assim que aeronave pousou no território brasileiro. Itamaraty citou ‘uso indiscriminado de algemas e correntes’ e pediu explicações aos EUA. Voo com brasileiros deportados dos EUA
Reprodução
Autoridades americanas podem ter desrespeitado pelo menos quatro frentes diferentes da legislação brasileira ao tentar manter, já em solo brasileiro, as algemas e correntes aplicadas nos brasileiros que foram deportados dos Estados Unidos na sexta-feira (24).
Além de atentar contra os direitos humanos garantidos a brasileiros em solo nacional, as autoridades podem ter desrespeitado a própria Constituição brasileira.
A lista foi informada ao blog pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.
“Cidadãos brasileiros contra os quais nada pesava criminalmente, ao pisar em solo brasileiro , estavam sob a proteção de tratados internacionais, da Constituição, da súmula 11 do STF [que regula uso de algemas], e da portaria do MJ sobre uso progressivo da força, que também tem artigo sobre algemas” , disse o ministro.
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O governo brasileiro informou neste fim de semana que pedirá esclarecimentos oficiais aos Estados Unidos. No fim de semana, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também protagonizou embate público com Donald Trump sobre o tema.
As regras violadas
Entenda o que dizem as regras que, segundo Lewandowski, podem ter sido violadas:
Constituição Federal: em vigor desde 1988, o texto define, já no artigo 1º, a “dignidade da pessoa humana” com um dos fundamentos do estado democrático de direito no Brasil. Em vários outros trechos, defende os direitos humanos e a dignidade para todos os brasileiros.
Tratado de deportação: a versão mais recente foi assinada em 2017, no primeiro governo Donald Trump e durante a presidência de Michel Temer no Brasil. O texto foi uma saída para evitar que brasileiros ficassem por longos períodos nos centros de detenção dos EUA – mas, segundo o Itamaraty, também foi desrespeitado agora.
Súmula 11 do STF: o texto regula o uso de algemas em todo o país – e diz que o dispositivo só pode ser empregado se houver resistência, risco de fuga ou alta periculosidade;
Portaria de uso progressivo da força policial: o texto, assinado recentemente pelo Ministério da Justiça, também define regras para as algemas.
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Os Estados Unidos têm como política interna algemar estrangeiros que são deportados por estarem no país em situação irregular – e saída desses voos é feita de acordo com as leis internas.
Qualquer movimentação em solo brasileiro (ou em voos que decolam já do Brasil), no entanto, deve estar submetida às regras brasileiras. Foi o caso do voo de Manaus a Belo Horizonte, no sábado, após a aeronave que saiu dos EUA enfrentar problemas técnicos.
Ou seja: a partir do pouso do primeiro avião envolvido, vale a regra brasileira. Que, neste caso, proíbe o uso de algemas e correntes por identificar um “tratamento degradante” dos envolvidos.
A Súmula 11 do STF, por exemplo é clara.
“Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.”
Voo fez pouso de emergência
Desde que o acordo de deportação entrou em vigor, ainda em 2017, o Brasil já recebeu dezenas de voos com brasileiros em situação irregular “expulsos” dos Estados Unidos.
Em 2024, foram 1.648 brasileiros deportados – 33% a mais que em 2023, segundo a PF. O número não inclui quem foi barrado ao chegar nos EUA e nem chegou a permanecer no país.
A diferença, dessa vez, foi que o avião enfrentou problemas técnicos e teve de pousar antes do previsto, em Manaus (AM). A previsão inicial era de que o voo chegasse ao Aeroporto Internacional de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte.
Segundo o Ministério da Justiça, equipes da Polícia Federal foram orientadas a receber os brasileiros em Manaus. E repassaram as informações sobre o tratamento degradante ao diretor-geral da PF, Andrei Passos, que passou o caso a Lewandowski.
Informado, Lula determinou que um voo da Força Aérea Brasileira levasse o grupo de brasileiros no trajeto entre Manaus e Belo Horizonte – sem as algemas e correntes que eram defendidas pelas autoridades norte-americanas envolvidas no traslado.
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Fonte: G1

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